Pense a Educação Brasileira
Pensar a Educação Brasileira neste
século XXI, sem levar em consideração, a
barbárie que é o fruto das relações sociais impregnadas nas estruturas mentais
dos brasileiros, principalmente, das crianças que, hoje em dia, são educadas
pela mídia, pelas redes virtuais, é focar na “coisificação” do ser
humano, é valorizar as coisas, a matéria (o que você produz efetivamente?) e
não na matéria humana.
Aliás, já vivemos um Holocausto na sociedade brasileira,
não como foi o Holocausto da 2ª Guerra Mundial nos campos de concentração de
Auschwitz na Alemanha, mas um Holocausto da corrupção
política, uma corrupção não só com os políticos, mas ela também se encontra
enraizada nas pequenas atitudes que temos todos os dias. Exemplificando: “o nosso jeitinho brasileiro”, é atitude
corrosiva não somente na concepção do indivíduo em si (ética individual), mas
também contribui para corrupção no sentido coletivo, prejudicando assim a
evolução cultural e epistêmica da mente dos brasileiros.
Na Educação brasileira percebemos também um holocausto.
Este holocausto pode ser interpretado da seguinte maneira conforme o filósofo
alemão Theodor W. Adorno diz que há uma espécie de semiformação. Os alunos
são semiformados culturalmente falando, pois, segundo os políticos, é oferecer
o mínimo do mínimo de educação para eles se tornarem massa amorfa para assim
serem facilmente manipuláveis quando se tornarem adultos que votam. A
semiformação acontece quando o Estado finge oferecer educação de qualidade. Não
estamos nem formando para mão de obra qualificada, porque os índices “abaixo do básico” estão em ordem
crescente, ainda mais com o contexto pandêmico nestes últimos dois anos (2020-2022) que afetaram drasticamente a Educação não só brasileira como no mundo inteiro. Segundo especialistas pedagogos, afirmam que a defasagem de aprendizagem dos estudantes é de 3 a 5 anos ou até mais, dependendo da realidade socioeconômica de cada país, portanto, o Brasil pode se estender para mais de 5 anos esta lacuna na aprendizagem de nossas crianças e jovens.
Quais seriam os fatores para esta crescente?
Os problemas
sociais e as consequências socioemocionais desembocaram na escola neste ano,
eis um dos fatores.
Outro fator, as
péssimas condições estruturais, financeiras, e de formação dos professores.
Sobre o primeiro fator, os graves problemas sociais que estão presentes nas escolas, nós
devemos levantar alguns questionamentos: Como cumprir o Currículo? Como educar
nestas condições de pura barbárie nas escolas? Como a criança aprenderá
conhecimentos básicos da educação, se ela está com fome, com frio, se ela está
doente física e/ou psicologicamente devido sua família se encontrar
desestruturada pós pandemia? O que fazer? Como fazer?
Enfim, a violência escolar cresce e a formação diminui, por isso, Adorno chama
de semiformação.
O que vemos no contexto atual da dinâmica escolar, não só
da escola, é o império da indiferença, a
ausência do calor humano fruto da convivência social não saudável, a
deficiência da capacidade de amar, como disse Adorno. Diante disto, o que
fazer?
Se Adorno afirma que as pessoas ditas “civilizadas” são altamente
influenciadas pela técnica, pela mídia que também educa de acordo com seus
pérfidos interesses no processo de autodestruição da pessoa humana, ao passo
que, “a consciência humana coisifica-se”,
então me parece que quanto mais civilizadas são as pessoas, mais elas são
artificiais como coisas, se tornam fúteis, frugais e frias. A barbárie se dá no
processo de “civilização dos indivíduos”
através da educação.
Hoje em dia, a maior preocupação nas escolas é manter um clima favorável ao processo de ensino e
aprendizagem dos alunos, amenizando assim os níveis da violência que já eclodiu
no berço familiar, e o aluno é o elemento reprodutor desta violência nas
escolas. Porém, este clima favorável compreende entender os problemas sociais
emergentes que os alunos trazem consigo no cotidiano escolar.
Não adianta querer ensinar os conhecimentos básicos da
educação para os alunos, se os problemas sociais gritam à sua frente. E
compreender esta movimentação, até certo ponto, agressiva, não é fácil,
contudo, é necessário para que haja uma movimentação contrária de humanização
em prol da formação cidadã dos alunos que se encontram sim carentes do saber.
Os alunos não sabem que gostam de saber, cabe ao educador
orientar e indicar o caminho plausível, desde que eles sejam despertados para
tal. Trabalhar contra a correnteza (problemas sociais) e transformar o negativo (a realidade nua e crua) em algo
positivo, atrativo e até emancipador do aluno, isto é, transformar a vida
do aluno com o conhecimento, mas tendo como ponto de partida do saber a própria
vida do aluno. Além do mais, conseguir fazer todo este processo de movimento de
humanização contra a desumanização dos seres aprendentes (alunos).
É preciso fazer a inversão da barbárie que chega lá na ponta, na sala de aula. É preciso reverter gradualmente a “coisificação da consciência dos alunos e dos professores”. É
preciso mostrar o quanto a escola com seu papel social de transformar a
realidade da comunidade, deve,
dentro do universo das possibilidades, promover
uma nova visão de mundo transformador e produtiva aos alunos. Por fim, o
que vem de negativo em consonância com outros negativos, seja transformado em
algo positivo, criativo, potencializador de sentidos para aqueles que convivem
no ambiente escolar.
É possível acontecer tal mudança?
Na perspectiva do fator das péssimas condições estruturais, financeiras e de formação dos
professores, sim é possível, basta combater o que Adorno já nos alertava na
década de 60 sobre as questões educacionais na Alemanha, mas que também servem
para nossa realidade brasileira. Os elementos são: a ausência de compromisso, a perda de autoridade, a falsidade de
compromissos que nos remete a uma espécie de passaporte moral, o qual nos
aponta para um “pseudo cidadão
confiável”.
Combater aquelas pessoas com o caráter questionável,
principalmente, aqueles no âmbito educacional. Estes são aqueles que se gabam
de superioridade, “eu sou o bom”, mas
na verdade não o é. Pseudo cidadão
confiável é aquele
que no sentido de segurança profissional, apenas um nome a zelar. Estas pessoas são como “ervas
daninhas” que estragam a harmonização do ambiente escolar, não promovendo
assim uma atmosfera saudável que amenize as consequências dos problemas sociais
estampados nos rostos dos alunos.
Encontramos aqui um problema geral
na sociedade brasileira, mas que se extenua na escola, que são as “crises de conduta”. Como fazer uma
atmosfera harmoniosa para um ambiente de aprendizagem educacional?
Chegamos num ponto crucial, na
ausência de formação fundamentada nos princípios éticos tanto gerais como nos
individuais. Onde está a ética? Será que precisamos mesmo da ética? Será que
precisamos refletir sobre nossas condutas? Que tipo de crise implica a
alteração em nossas condutas?
Pensar a gestão da escola implica em detectar os
graves problemas sociais que os alunos nos apresentam e trabalhar fortemente
com base nos princípios da ética uma formação de caráter reflexivo e
auto reflexivo. Se assim não o fizermos, estaremos fadados aos golpes do
desamor, da violência escancarada.
Acredito que ainda é possível,
porque já o fazemos de maneira quase instintiva, por uma questão de
sobrevivência, quando falo dos “heróis da
resistência” , os professores. Os professores foram, são e sempre serão a chave de transformação social de nossa
sociedade brasileira.
A atuação dos professores em sala
de aula e tendo um retorno, uma satisfação garantida de aprendizagem do aluno,
isto é ganho social enorme que pode modificar a futura realidade social do
nosso país. Entretanto, os professores estão tão “coisificados” quanto os alunos. Somos reféns do sistema perverso,
cruel que desmerece o trabalho de quem realmente pode mudar uma nação. Mas para
isto acontecer, é preciso despertar para o poder do ideal da educação nas veias
e mentes dos próprios professores.
Portanto, é preciso conectá-los
em pensamento, em atitude, em ação. Valorize
seu professor, pois assim, você estará valorizando o seu sucesso na vida em
sociedade, o qual não é nada fácil.
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