"Linguagem Dúbia"
"Todo ato psíquico é acompanhado de uma dupla consciência interior, de uma representação correlativa e de um juízo correlativo, sendo a percepção interior um conhecimento imediato e evidente do ato." (BRENTANO, 1944, p.152)
Quando pensamos em algo, mas, quando expressamos o que
pensamos tanto no dizer como no escrever, a linguagem pode se tornar dúbia. Esta
linguagem é dúbia propositalmente ou porque ela “a linguagem” será sempre
bifurcada entre o que se pensa e o que se fala, entre o que se pensa e o que se
escreve, principalmente, entre o valor de verdade e o valor de falsidade?
A linguagem é multiforme dependendo do contexto em que ela se encontra tornando-se dúbia quando se dá brechas quanto aos critérios preestabelecidos em um ato comunicativo entre as pessoas. Quando falo dúbia, digo no sentido de bifurcação. A bifurcação na linguagem binária (Entre Sim e Não, Entre Concordo e Discordo) pode se
autoconectar entre tantas outras nascentes de bifurcações da língua, basta o
espírito livre criativo agir e produzir “novas
palavras”, “novas expressões”, “novos significados”, “novos sentidos para uma
mesma teoria.”
Afinal, “o que há de novo debaixo deste sol”, a não serem
repetições das repetições, já dizia Theodor W. Adorno, filósofo, sociólogo da
Escola de Frankfurt, com o conceito “poder
das repetições” vide sua obra “Dialética
do Esclarecimento, 1985, In: Conceito do
Esclarecimento”. Na Contemporaneidade no fluxo da complexidade não está para o Ser, mas sim para o Não Ser, o múltiplo, a diversidade nas entrelinhas do
arcabouço do existir em seus labirintos intermináveis. Querer investigar,
conhecer o múltiplo em diversas facetas é mergulhar no abismo das portas e
janelas das possibilidades do Ser no evento do devir.
O Conceito “poder
das repetições” de Theodor W. Adorno se assemelha ao conceito de “eterno retorno” de Nietzsche. Eu digo,
este conceito se desenrola também no âmbito da linguagem. As palavras se
repetem, porém, as proposições significativas não se repetem, porque o significado é o
significante quem dá. As ideias se
repetem, porque ninguém quer o novo, ninguém quer se esforçar, ninguém quer
pensar. Quando se pensa, pelo menos, cria uma possibilidade do novo.
Tudo se repete, mesmo que tentem criar algo
novo, porque o novo agora é velho, o
novo é o velho sofistique, epoqué, atualizado, o novo é o velho com uma
roupagem moderna, e quem diz que o moderno é sinal representativo do novo? Quem
diz que estar na moda, é decidir pela novidade? Novidade do quê? De quê? Existe
algo mais velho do que retrô? Linguagem
educada, culta, politizada, erudita, clássica não significa que “olha o quanto ele sabe, como ele é culto e
moderno”, simplesmente, uma linguagem dúbia, copia o já copiado há 2000 mil anos atrás tais pensadores
clássicos como: Platão e Aristóteles, mas antes deles tem os primeiros
filósofos como: Parmênides e Heráclito, mas antes deles tem os poetas gregos:
Homero e Heródoto, mas antes deles tem os sacerdotes egípcios, indianos e
chineses há 5.000 mil anos atrás, enfim, tudo se repete, só é contextualizada
historicamente.
Fazendo
uma analogia grotesca: A linguagem é uma árvore. A árvore tem: raiz, caules,
folhas e frutos, porém, tudo isto vêm de uma semente. Pensa assim: a semente
representa “a intencionalidade da
linguagem”, o broto germinado representa “a palavra gerada”, o tronco representa “a sentença” ou “a proposição com significado e significante”, os
ramos representam “o entendimento e a
compreensão da linguagem”, quando os frutos apodrecem representam “os
desentendimentos e a incompreensão da linguagem”, quando a semente retorna
ao solo “a intencionalidade da linguagem”
retorna ao âmbito das ideias ao solo.
O
ciclo natural das ideias perpassa pela linguagem, nem sempre o que digo, quer
realmente dizer aquilo, pois, a semente da linguagem está na intenção do
sujeito pensante, complexo em sua inteireza.
A
Intencionalidade na linguagem é a chave para conhecer a alma dos sujeitos
viventes na esteira do bem, da onde vêm o deleite com o cuidado.
Mas,
como direcionar minha intenção?
Minha
intenção vem do que tem no meu coração, se meu coração está cheio de rancor,
tristezas, sentimentos negativos, a minha intenção levará esta energia negativa
para tua linguagem, se meu coração está cheio de alegria, de esperança, a minha
intenção levará esta energia positiva para tua fala, tua expressão, teu agir.
O
Coração pulsa e a intenção leva esta pulsação através da linguagem. Quando falo
do coração, falo da alma pura, falo do oásis de divindade que há dentro de nós,
que fica escondido, com as trevas da ignorância, dos nossos atos impuros e
inconsequentes.
Cada
batida do coração impele a viver a vida na expressão da língua falada,
comunicada, expressada, sentida com cores jamais vista por qualquer ser humano
neste mundo terreno. Falando em expressão mundana, a linguagem dubiana,
mistura-se ao que se quer dizer e o que não se quer dizer, e simplesmente, é
dito no calor das rimas, das poesias, dos discursos científicos ou não, dos
discursos políticos ou não, nos discursos filosóficos ou não, naquela conversa intelectual que sofre com as
conclusões inconcludentes de certas questões como vida e morte.
“Eu
disse para você!” (Cautela presunçosa), “Porque não?” (Porque sim.), “Eu quero
tanto isto.” (Eu, na real, não sei o que eu quero), “Eu te amooooooooo” (Será
que eu amo tanto assim alguém, com estes exageros linguísticos), “Pode deixar,
que estarei lá” (Pode esperar sentado, que eu não vou nem a pau), “Concordo com
você, sem dúvida nenhuma” (Não concordo, porque já estou duvidando neste
a-cordo), “Sem problemas” (Todos problemas), “Não esquenta” (Tô ferrado).
Digo
e não digo, desdigo o dizer dito de qualquer forma.
Prof Ms. Sérgio Augusto
Moreira – 26/06/2015 – 18:00 h
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