“Quem é você?”
“Quem gosta de você é você mesmo”,
já dizia João Fiu-Fiu, logo após, alguns goles de pinga. Um cidadão brasileiro taubateano tão peculiar quantas outras pessoas. João Fiu-Fiu era um senhor professor
aposentado da disciplina de Língua Portuguesa, era também um locutor de rádio
esportivo, botafoguense fanático. Um homem ligeiramente inteligente.
João Fiu-Fiu sempre me dizia a mesma
coisa quando ficava alterado, “Quem gosta de você é você mesmo”. Eu
apenas era um adolescente de 14 anos que trabalhava com meu pai num bar que se
chamava “Bar do Xará”, eu mal sabia nada sobre o mundo, mas com esta
oportunidade que eu tanto reclamava e brigava com meu pai que não gostaria de
trabalhar naquele bar, então, este lugar me proporcionou ricas
experiências, conheci pessoas estranhas, místicas, malucas, enfim, não entendia
o que eles me diziam. Exemplo: João Fiu-Fiu uma figura pitoresca – um senhor
magrinho de óculos, calvo, de bigode, que só andava com roupas sociais, falava
o português perfeitamente, uma pessoa polida, que gostava de assobiar, parecido com Charles Chaplin da figura acima.
Eu ficava encafifado porque ele
sempre me dizia a mesma coisa. “Quem gosta de você é você mesmo”.
Eu não entendia nada. Eu dizia: “Acho que ele está ficando louco”.
O que eu não sabia que ele me falava
do futuro, do futuro de qualquer um.
Entendo hoje, graças à oportunidade
de ter conhecido esta pessoa, que me apresentou, de certo modo, um princípio de
vida: “Quem gosta de você é você mesmo”.
Sim, esta sentença é verdadeira,
porque este princípio te dá chão, te sustenta, te estrutura, te ampara, te
direciona para onde você quiser e aguentar.
Quando você começa gostar de você,
sem pseudo moralismos, quando digo isto, é porque você começa entender que “tudo começa em você e termina em você”.
Gostar de você é gostar dos seus
erros, gostar dos seus limites, gostar do seu desconhecido, gostar dos seus
medos, gostar do que você não gosta, gostar dos seus defeitos, gostar do que
você não é. Exatamente, gostar do que você não é, é assumir a sua imperfeição
na suavidade da percepção dos seus sentidos, do seu agir, do seu decidir.
Aprendi a procurar enxergar para
dentro de mim, aquilo que não gosto do mundo exterior e, que muitas vezes, absorvo
para dentro de mim, sem perceber, estou agindo como não quereria agir.
Estar atento aos meus comportamentos
é olhar o que é meu e o que não é meu, geralmente, estamos cheios do que não
somos, estamos contaminados de lixos superficiais tecnológicos, que nos deixam
loucos, frenéticos, esgotando todo nosso tempo com o intuito de nos examinarmos
e fazer nossas autoavaliações constantes para poder progredir e libertarmos
daquilo que não nos pertence.
É fácil gostar do que é afirmativo
para você.
É fácil aceitar o que lhe é
favorável.
É fácil lutar por aquilo que lhe
impulsiona naturalmente para você que é familiar, que é conhecido, que é seguro.
Entretanto, pensar dialeticamente a
facilidade – é pensar a dificuldade do processo que se dá na contradição, no
oposto, no contrário do que lhe trará a facilidade como resultado, mas o que
importa: o resultado ou o processo?
Ser e não-Ser num processo de
construção constante.
Começar, terminar? E o meio como
fica? Ficou, vai ficar ou não ficará?
Retornando ao princípio de vida: “Quem
gosta de você é você mesmo.”
Lembre-se que esta sentença
inicia-se com a palavra: “Quem”
quando começamos com “Quem”, queremos
saber de alguém, Quem é este alguém? Ao fazer esta pergunta, perguntamos por
uma pessoa, pessoa esta que não existe, mas não existe por quê? Por que ela se
encontra no mesmo lugar que a resposta. Você está, Você é, Você foi,
Você será muitas coisas, como posso dizer você, se não posso
dizer eu?
Como posso dizer eu, se não
me conheço nem 5% de mim mesmo? E por que desejo me conhecer ardentemente, se
não conheço você que é o meu outro? Por quê? Por quê? Por quê?
Não sei.
Quem é você? Quem sou eu? Quem és
tu?
Importa ou não? Talvez alguns
momentos de lucidez nesta vida de lágrimas e de sorrisos também, de felicité, de fraternité, de liberté,
de pura sintonia com você, que você confunde com o dedo de Deus, pena que é por poucos minutos tal sensação tão sobrenatural, estar com você e Deus ao mesmo tempo.
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