“A Tecnologia em prol da barbárie” Linguagem, Tecnologia, Educação: É possível pensar a sociedade, os homens na racionalidade iluminista com o fim último da formação? A problemática acima como subtítulo deste texto é posta em três áreas relevantes: Linguagem, Tecnologia e Educação que se entrecruzam na sociedade como uma racionalidade iluminista como um fim ultimo da filosofia moderna, a razão acima de tudo, tendo como fundador da filosofia moderna, Descartes, com a sua maxima: Cogito Ergo Sum, "penso, logo, existo". A razão é o princípio moderador das ações humanas na sociedade através desta filosofia, como dizia Kant a razão é a legisladora de si mesma, ou seja, do homem. Mas veremos a razão iluminista moderna como é focada de uma maneira extremamente técnica, objetiva, manipuladora dos próprios homens em suas ações cotidianas com um “ar de semelhança” como dizia Adorno sobre a contemporaneidade. A razão por meio destas três áreas se relaciona pelo fim ultimo que é a formação do homem no meio social. O que realmente leva a esta “miraculosa” formação do homem? Iniciemos com o campo da Linguagem, citando um filósofo da linguagem, Wittgenstein, ele diz: “A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de nosso entendimento pelos meios de nossa linguagem”.[1](Wittgenstein – 1979) A sentença de Wittgenstein refere-se à filosofia, o qual não é o foco da reflexão, mas refere-se no sentido de uma dialética constante contra a dominação social através de nossa linguagem, comunicação. A filosofia pode ser entendida como uma dialética argumentativa em prol do esclarecimento, mas Wittgenstein não quis dizer isto e sim nós a nossa reflexão sobre a linguagem como um meio e o meio de comunicação humana. A linguagem como meio, ponte, ligação, conexão do mundo (interno) para o mundo (externo) do homem consegue mesmo e com a sociedade, é alvo de vários enganos, problemas, enfeitiçamento, dominação e manipulação, cujo uso estaremos sempre expostos a tais acontecimentos na convivência humana na sociedade. A linguagem, a palavra tem força que exprime ou não exprime; que constrói ou destrói; que cria ou não cria; que humaniza ou desumaniza. É preciso ter cuidado com este meio que pode nos enfeitiçar a respeito do que realmente queríamos ter dito. Mas retornando a afirmação de Wittgenstein, o que nos interessa é quando ele menciona a linguagem como meio, eis o problema, fazendo a conexão com a outra área: a tecnologia; citarei o texto de José León Crochík – “Teoria Crítica e Novas Tecnologias da Educação”.Ele afirma: “O objetivo das novas tecnologias educacionais de transmitir informações o mais fielmente possível tornam-nas disfarce da injustiça objetiva (...) posto representa a dominação social”.[2] (León – 2003) Tecnologia que é um meio ligado através da linguagem enfeitiçada, desviando nosso entendimento do que realmente é, causando assim uma injustiça em nome da razão objetiva, representando a dominação social. Controlar as massas pelo meio da tecnologia através da comunicação, portanto, o uso da linguagem que está acriticamente atuando na sociedade, como diz Adorno imbecializando as massas pela indústria cultural. A linguagem passa pelo crivo da industria cultural, a seu favor, a forma e conteúdo, a forma muda, mas o conteúdo é sempre o mesmo. E qual é este conteúdo? É a dominação social fazendo das massas amorfas no pensamento, garantindo a vontade de potência como diria Nietzsche para os fortes, ou melhor, para os que detêm o poder capitalizado e legitimado. León afirma algo mais sobre o meio e seu uso: (...) o meio não é o responsável por isso e, sim, o seu uso, mas deve-se considerar que a criação do meio não é independente das necessidades sociais e da potencialidade técnica existente (...) a crítica da sociedade deveria implicar, também, a crítica dos instrumentos técnicos, considerando-se estes últimos representantes das relações dos homens com a natureza e dos homens entre si, em determinado momento histórico.[3] A tecnologia que é um meio e por intenções e determinações do uso deste, sofre críticas da sociedade, pois, há uma dissociação da tecnologia com o seu fim último, cujo fim seria a informação, o conforto, a rapidez e o conhecimento da potência técnica aos seres humanos em sociedade. A televisão como um exemplo desta tecnologia que não se preocupa com o meio, mas o seu uso, cuja finalidade é estar a serviço da barbárie como afirma Leon: “A Televisão nasce na esfera do entretenimento, que já é problemática; quando é proposta para a educação, empresta a essa o caráter de indústria cultural”.[4] Pensar a Educação na esfera televisiva perde-se muito, pois, imagine a postura do telespectador frente à televisão, é de paralisar, enfeitiçar o telespectador, podando assim o que o homem tem de mais excelente e enriquecedor que é as relações dialógicas enaltecendo a essência humana. A paralisação diante da tela é também uma maneira de retardar uma outra característica humana, a ação humana conjuntamente com o pensamento, o individuo diante da tela não age, só apenas reage ao que lhe é condicionado pelos programas televisivos, assim como afirma Adorno, uma Educação contra barbárie televisiva. Mas o que é a Barbárie? Segundo Adorno: Entendo por barbárie algo muito simples, ou seja, que, estando na civilização do mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontram atrasadas de um modo peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização – e não apenas por não terem em sua arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao conceito de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por uma agressividade primitiva, um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de destruição.[5] Acrescentando a citação de Adorno, “Um impulso destrutivo imposto muitas das vezes pelo enfeitiçamento da televisão”. Acostumados, adestrados a situação cotidiana de ver televisão para passar o tempo, ou melhor, eu diria para que lute e sonhe por seus ideais e objetivos na sua vida, é um massacre da tecnologia frente aos homens que deixam de pensar e agir em prol de uma vida totalmente condicionada pelos programas televisivos. Pergunto: Formação de quê? Sendo que somos espoliados mentalmente em nome de uma tal formação, formação em prol da cidadania ou escravidão? A fixação das massas pela imagem televisiva, é aderida por todos, Karl Marx uma vez dizia que “A religião é o ópio do povo”.Mas hoje em dia, “A televisão que é o ópio do povo”.Onde está o lugar da educação? E como podemos falar de Educação com o uso inadequado destes meios de comunicação, linguagem, tecnologia como formação? O que formamos com a televisão? Formamos sujeitos passivos e inofensivos, como afirma Adorno: “esta passividade inofensiva constitui ela própria, provavelmente, apenas uma forma de barbárie, na medida em que está pronta para contemplar o horror e se omitir no momento decisivo”.[6] Formar é uma palavra dúbia o qual Adorno utiliza em sua obra, mas a palavra está mais para o sentido de condicionamento do que emancipação, porque quem forma limita, condiciona, manipula o sujeito no pensamento já comprado, consumido, pronto, confortável, sem esforçar-se. A formação na educação tecnológica televisiva é automatizada, pronta, não tendo direito para o livre-pensar. O ser humano não é uma tabula rasa e nem está totalmente pronto, mas é a partir da construção da ação humana e a experiência vivenciada, aprendida, sentida, e principalmente, pensada, que podemos alcançar a emancipação. O ser humano não se forma, mas é educado a cada experiência vivida na liberdade de escolha, de ação, de decisão e de pensamento entre os limites com as leis da sociedade, mas o foco é o livre-pensar, sem condicionamentos e adestramentos. Retornando a questão inicial. È possível pensar a sociedade, os homens na racionalidade iluminista com o fim último da formação? Sim e Não, porque quando perguntamos com a palavra possível, fala-se em possibilidades, pode ser sim e não; mas ao refletir esta pergunta nas três áreas: Linguagem, Tecnologia, Educação é Sim, porque as três áreas conectam-se com os fins últimos mercadológicos da ideologia capitalista dominante, que é óbvio, é o de formar os homens como “bons cidadãos” para sociedade, ou seja, homens limitados e medrosos, pois perde a vontade de sentir esperança, liberdade de sonhar com o que quiser. Mas e o homem na sua complexidade? É Não, porque nas três áreas a racionalidade iluminista tende a escravizar o homem em seu próprio pensamento com a intenção de formar a massa acrítica, e sem perceber o movimento sútil do capitalismo dominante, conforme Adorno afirma: cuja intenção não possibilita a emancipação e sim sujeitos enfraquecidos no seu ego . A problemática é a formação, enquanto nós educadores idealizarmos utopicamente em formar o ser humano, e usar este pseudoconceito iluminista, acontecerá realmente o que se quer formar, condicionar, ajustar como diz Adorno e; a liberdade não é mais almejada, buscada, esperada e conquistada nas ações humanas em suas complexas diversidades do social em meio a nossa contemporaneidade, por que não usar tal liberdade sim, deixando fluir o complexo humano na sua existência social, ou seja, é o pensamento que comanda e não as coisas, matéria. A formação no sentido adorniano de emancipação é inexistente. Assim evitaremos jargões e discursos altamente ineficientes como: “Formamos cidadãos para sociedade”.Não formamos nada e ninguém, o sujeito em sua existência escolhe o que quer aprender ou não, como afirma Sartre: “Somos condenados à liberdade”. A escolha com a decisão são poderes humanos no meio social que garante o livre-pensar em sua diversidade, gerando responsabilidade tanto na linguagem como no agir, como na tecnologia e na Educação. Portanto, é sendo seres responsáveis, decididos e seletivos em nossas escolhas nas três áreas como: linguagem, tecnologia e educação; protegeremos (do externo) assim e preservaremos ( o interno) da perversa indústria cultural, não deixando ser aprisionados os nossos sonhos mais íntimos como: liberdade, a verdade, a justiça, a paz, etc. Temos que pensar, temos que falar, temos que agir contra a barbárie de maneira natural, livre e consciente, mas não só contra ela (a barbárie) , e também fortalecer o seu próprio ego para vivermos, lutarmos, crescermos como uma civilização o qual brota nas relações humanas autênticas, sem filosofias, ideologias e estratégias, a verdadeira natureza humana em sua metafísica utópica. 

 Referência Bibliográfica: 
 
ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. 3ª edição, Rio de Janeiro: editora Paz e Terra, 1995.
CROCHÍK, José Leon. Tecnologia, cultura e formação – ainda Auschwitz. (Teoria Critica e novas tecnologias). Bruno Pucci, Luiz Antonio Calmon Nabuco Lastória, Belarmino César Guimarães Rosa (organizadores) – São Paulo: Cortez, 2003. WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas, 2ª edição, Tradução José Carlos Bruni, coleção “Os Pensadores”, São Paulo: editora Abril Cultural, 1979. [1] WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas, 2ª edição, Tradução José Carlos Bruni, coleção “Os Pensadores”, São Paulo: editora Abril Cultural, 1979, parágrafo 109, p.54. [2] CROCHÍK, José Leon. Tecnologia, cultura e formação – ainda Auschwitz. (Teoria Critica e novas tecnologias). Bruno Pucci, Luiz Antonio Calmon Nabuco Lastória, Belarmino César Guimarães Rosa (organizadores) – São Paulo: Cortez, 2003, p.97. [3] Ibidem, p.98/9; [4] Ibidem, p.99; [5] ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. 3ª edição, Rio de Janeiro: editora Paz e Terra, 1995, p.155; [6] Ibidem, p.164;

Comentários

  1. O texto reflete oq as pessoas não pensam ou seja a falta de racíocinio e utilização mental dos homems....Assim creio que o mesmo seja válido para despertar os olhares criticos com relação ao uso do saber humano e de sua capacidade intelectual.
    TM VL very much .....

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  2. Fala Professor!!! O q vc acha da afirmação marxista: "Existo, logo, penso"?

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  3. Como já debatemos, Prof. Alvaro Concordo e discordo, porque a existencia humana está atrelada a objetividade do real em seus contextos culturais sócio-históricos, ou seja, o ambiente faz a pessoa, mas quando começamos adquirir uma consciência critica tardiamente ou não o ambiente pode até influenciar porém ele terá um leque de opções para condicionar a sua existência, eu diria q seria um condicionamento do incondicionado, então será q afirmação marxista: Existo, logo, penso não seria uma outra forma de condicionar também?

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