O que seria o Absurdo? Parte - I
Texto criado a partir de um Seminário na PUCSP no dia 01/06/10 com o seguinte
 tema: Nietzsche. Camus e o ciúme da vida.


   Viver uma vida sem brilho, sem garra, sem luta e ao mesmo tempo, que nos mascaramos numa vida de brilho fugidío, numa força opaca, vazia, numa luta insana que não se opõe, não entra em choque de ideias ou sentimentos que nos coloque frente a frente a nós mesmos e dizer: Que Absurdo! Sim, absurdo por viver sempre o vir-a-ser querendo ser o que não se é, só apenas por um instante, um segundo ou um minuto, ou quem sabe vários minutos e até podemos chegar a 1 hora que é quase impossível, porque segundo Heráclito e em comunhão com o pensamento contemporâneo de Nietzsche, é vir-a-ser é o nosso Ser que é mascarado pelo próprio Aparecer do Ser, ou seja, um instante nos basta desta pura ilusão, o qual chamamos de verdade ou realidade, como disse Nietzsche "o que nos importa as palavras!"
   Os deuses gregos: Dioniso e Apolo são representações mitológicas da "vontade de potência" na essência do conceito  de Nietzsche ao expor com propriedade sobre os jogos de forças da vida em si. Aqui seria o prólogo de toda a filosofia de Nietzsche; Dioniso representado o Grunde ( o fundão em alemão), esta força inerente da vida e da natureza do vir-a-ser constante, como disse Heráclito "no cosmo tudo flui", é este fluxo que configura um certo tipo de vida autêntica no Absurdo de uma particularidade existencial mundana, pois tudo se perde, passa, reconfigura, muda, transforma, enfim o mundo das pluralidades eminentes de cada ente, de cada ser; Já Apolo representa a ordem, o conceito, o instante que se prende no instante e acaba se eternizando neste instante, ou seja, um instante preso, guardado, isolado, pesquisado, trancafiado é objeto do passado, da história e da mémoria, sendo assim torna-se mundo da unidade conceitual-histórica, parece que "congela" e "fixa-se" o que foi apreendido, capturado pela ordem racional-lógica-cientifica, segundo Adorno na Dialética do Esclarecimento este congelar e fixar é mera repetição imagética que torna-se uma verdade absoluta, universal, contudo o sujeito dito pensante no cartesianismo é puro fruto da dominação em prol da panacéia cientifica cuja solução é falível, contradizendo a celére sentença Baconiana que preconizava a ciência moderna: "Saber é poder", para Adorno: "Saber é poder dominar" e, eu diria que para Nietzsche: "Saber é poder dominar pela repetição do abstrato niilista e empalidecer a vida em si". No entanto, ainda falando de Apolo como figura do viés da história da filosofia, o Absurdo de uma vida inautêntica no sentido heideggeriano, um baile de máscaras frágeis que se quebram ao tocá-las com mais firmeza de espírito, tentando esconder o que não pode ser escondido no sentido nietzscheano, pois, a força do fluxo do devir insaciavel da vida é descomunal e impiedosa, não há petrificação de conceitos, ou , Verdades Absolutas dogmáticas, não há Nada que o segure apenas por uma máscara frágil, doentil e provisória que você queira Inventar com o instrumental da linguagem.
   Problematizando sobre estas figuras mitológicas gregas, tanto Dioniso como Apolo, representam a questão temática: O que seria o Absurdo? Tendo em mente que em Dioniso o absurdo é dado pela plurivocidade do devir imutável, pois o vir-a-ser é força vital do cosmo que tsunamiza tudo, é óbvio que o desemboque deste Absurdo seria o próprio niilismo, o Nada, pois o que fica no que não se fica, se perde  e até se desintegra com tamanha força é esta corrente vital do devir, este é terreno do devir o Nada, a corrente, o fluxo que não tem fim e nem começo, apenas fluxo constante, eis o Absurdo de se entregar inteiramente a este fluxo, mas em contrapartida paradoxal ilusória, Apolo tem o absurda "missão" de parar este fluxo "sanguíneo"(porque o sangue representa a vida) senão a vida se esvai, entretanto, ao mesmo tempo, que se gasta energia e tempo (duas dimensões que garantem e podem conservar a vida ou não: nós somos energia e o tempo é o conta-gota da vida e a morte se aproximar não necessariamente nesta ordem, é um paradoxo entre energia(vida) e tempo(morte)) para obstruir ou conter o fluxo, ao invés de ganhar tempo(vida), perde-se tempo(vida) com um esforço imenso em "guardar a sete chaves" os "conceitos", as "verdades", as "liberdades" em nome de uma Unidade provisória chamada Instante. Por que o instante nada mais é do que a tentativa de conter com ideias abstratas e vazias o que se é cheio e transbordante de devir da vida, portanto, eis o absurdo nesta tentativa de parar o que não pode ser parado. Fazendo uma analogia mítica grotesca, é tentar tapar o vazamento dos oceanos no espaço sideral, sendo o espaço infinito uma vez rompido, vazado, não terá volta.
   Retornando a questão, O absurdo da vida está no próprio absurdo de querer o não querer querendo sempre querer o que não pode ser quisto, citando Schopenhauer com sua obra "O mundo como vontade de representação", conjuntamente com o Prof. Peter Pahl (Prof. da PUCSP que ministra o curso sobre a verdade em Nietzsche o qual estou ainda cursando) diz assim: "o querer quer si mesmo, o querer quer sempre querer e já que o querer é sofrer, não quero mais querer para não sofrer, um paradoxo metafísico da vontade do mundo, nós almejamos o aquietamento do querer, querer não-querer, um grau zero de tensão" . Contudo, não querendo aprofundar mais sobre o querer, a vontade em Schopenhauer, mas relacionando com o tema: 'o absurdo' que quer sempre absurdo nos rodeia, nos ameaça, nos mostra, nos ensina, nos invade, nos liberta, nos escraviza, nos paradoxiza ou comporta o imparadoxável, o conflito, confronto, os extremos, os pólos, ma será que comportando tudo isto posso universaliza o absurdo, ou, apenas dizer que o absurdo é parte da vida e não seu todo como generaliza Schopenhauer? Eis nossa tendência através da linguagem em querer dizer o que não pode ser dito, mas será que com o "organom" da linguagem não posso ser ambicioso e dizer o posso dizer nos limites do ilimitado, conseguindo uma certa aproximação do universal do absurdo? Se tudo fosse um absurdo, o que seria eu então? Uma existência absurda ou uma absurda existência? Se tudo não fosse um absurdo, o que seria eu então? Uma absurda existência ou uma existência absurda? Parece uma brincadeira lógica, ou um jogo de palavras, mas não é. Pense e Reflita o que intui.
   No começo do texto, inicio dizendo que "Viver uma vida sem brilho, sem garra, sem luta e ao mesmo tempo, que nos mascaramos numa vida de brilho fugidío, numa força opaca, vazia, numa luta insana que não se opõe, não entra em choque de ideias ou sentimentos que nos coloque frente a frente a nós mesmos e dizer: Que Absurdo!" e respondo: "Sim!" e continuo respondendo até então Sim, mesmo com as duas dimensões de forças dionisica (força vital inerente) e forças apolíneas opacas, fracas, aparentes que se conflitam, se chocam, mas como vimos as duas expressam o absurdo, por isso reforço a minha conclusão preliminar crítca, será o absurdo universalizante ou apenas uma parcela da vida como dizia Camus em sua visão absurda do mundo?

Sérgio Augusto Moreira - SAM



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