Recomeço: Vida Nova!

    Recomeçar, ter uma vida nova, não é tarefa fácil para quem está acostumado, viciado com o velho.
    Do ponto de vista sociológico, o novo causa um olhar de estranhamento, espanto (Thaumadzein-grego), admiração, mas o sentimento maior que é despertado em todos nós é o medo, por isso ficamos inertes, sem ação ou reação, só podemos fazer duas coisas: bater ou correr, enfrentar ou fugir, ser corajoso ou covarde.
     É estranho o novo mas ele me seduz, pode ser perigoso, mas ele persuade a ir em frente, a buscar e conquistar este novo que, logicamente, vai tornar-se velho, cedo ou tarde, assim é o ciclo da vida. Entretanto, o novo pode ser uma luz no fim do túnel, uma nova esperança, um renascimento, um revigoramento, um fortalecimento de si mesmo, uma nova oportunidade de acertar e não errar, sabendo que nós, bicho homem, só somos o que somos pela predominância do erro em nossos atos e atitudes no cotidiano. Somos seres políticos errantes por natureza. O erro é o ponto de partida ou de apoio para o acerto, mesmo não discernindo, às vezes, o que é certo do errado. Afinal, o que é certo e o que é errado? É totalmente subjetivo, mesmo que o abstrato ou a objetividade se legitime com o seu universal, ainda pode ser subjetivo, porque o objetivo foi criado pelo subjetivo, por exemplo: a matemática, é objetiva 2 + 2 = 4, esta operação é universal/objetiva/abstrata, mas foi criada, usada, pensada primeiramente por alguém, por isso antes de mais nada, o objetivo foi subjetivo antes.
     Retornando a nossa problemática do Novo, a dificuldade de enfrenta-lo é relativo, subjetivo, pois para uns é mais fácil porque tem uma ânsia maior de degustar novidades, odeia a mesmice, o tédio, a segurança, já para outros é mais dificil porque preferem se resguardar, procuram o porto seguro ancorado nos costumes e hábitos já vivenciados, no que conhecem, odeia novidades e mudanças. Um é corajoso, o outro desprovido de coragem, talvez acomodado com o que se acha seguro, que um dia pode não ser mais seguro. Mas os dois sentimentos antagônicos despertado pelo Novo, só nos complementa aquilo que somos e não somos ao mesmo tempo, na ambiguidade do tempo chamado "presente". Somos mais o que somos ou  o que dizem que somos? Somos mais o que não somos ou o que dizem que não somos? Fica para pensar, ruminar como a vaca passa a noite inteira ruminando, assim devemos fazer o mesmo, ruminar nos "free time" do cotidiano, nas fagulhas do tempo fragmentado do presente, naqueles segundos ou minutos que não estamos fazendo absolutamente nada, ou, deixe que o " tédio que é a manifestação do abismo do nada", como disse Heidegger, te atinja em cheio, e não pense em nada somente sinta e experiencie o Nada, talvez neste "deixar-ser" se encontra o verdadeiro pensar no não-pensar, se encontra a verdade na não-verdade, se encontra a liberdade na não-liberdade, se encontra a felicidade na infelicidade, pois, o negativo se autoreflete na frágil imagem da positividade. O que se pensa ser positivo, Novo é apenas uma máscara mal feita da negatividade e vice-versa.
     Numa perspectiva cristã, o Novo passa pelo estereótipo da Cruz, antes do novo, vem a cruz, o sofrer, a paixão que nos redime e purifica dos nossos infindavéis pecados, faltas para com Deus e o próximo. Mas quem é meu próximo?
     Todo mundo e ninguém, ao mesmo tempo, todo mundo porque estou em relação com o mundo, sou um ser social, pelo menos deveria, qualquer pessoa que está do teu lado, mesmo sem conhecer eu posso amá-lo indistamente de cor, raça, religião, mentalidade, cultura, enfim, ele é meu próximo, e se precisar vou ajudar, eis o novo, constantemente na vida cristão, são as pessoas que ele vai tendo contato ao longo do dia, são aqueles desconhecidos que você vê naquele momento, naquele dia e que provavelmente nunca mais verá, então eis a oportunidade de enfrentar o novo, o cristão autentico tem coragem para encarar o novo, aliás é um desafio que ele adora, pois quanto mais estranho melhor, como explicar isto? Não sei, só sei que o cristão autentico é impelido por forças do alto a fazer o que deve ser feito por todos seres humanos, amar uns aos outros, como eu vos amei, o exemplo é Cristo Jesus, Ele é norte, a direção que os cristãos autenticos devem se guiar. Quem são os cristãos autenticos?
    Na minha concepção e visão, são aqueles que vivem o amor sempre, independentemente, da crença religiosa, cristão - é aquele que é seguidor de Cristo, independentemente, da religião.
     "Buscai as coisas do alto" - é buscar, na sua vida constantemente, o Novo, a cada raiar do Sol, agradecemos o milagre da vida, é estar cheio de graça e da graça de Deus; contentamento pelo que a vida lhe oferece sendo bom ou ruim, como Deus disse na criação: "Deus viu que tudo era muito bom" (Gen 1,31)
     A força dos cristãos está na cruz, na paixão, no sofrimento, na dor, que muitos não sabem disto, por isso desistem facilmente da sua cruz de cada dia.
     Mas será isto masoquismo?
     Pode ser para aqueles que não creem na transcendencia, Deus, para aqueles que vivem uma vida pautada na imediatidade no hic et nunc (no aqui e agora), sendo que vivenciamos em tempos caóticos que proporcionam uma preocupação exacerbada só com o presente, viva o agora! Eis o lema da contemporaneidade. Mas a proposta do cristianismo para aqueles que entenderam e vivenciaram em vida, é aderir a cruz, é passar primeiro pela cruz, para logo em seguida, ressuscitar, e por vivermos em tempos dificeis, tudo é mais inseguro, temos mais medo, mais angustias, mais pânicos. Tudo isto é fruto de uma lógica perversa que acelera o tempo de produção do homem em sociedade. Tudo é correria, tudo é automatizado, para que você não pense, e nem precise duvidar que você precisa do pensar por si mesmo. Tudo está engendrado no sistema. Mas, em contrapartida, o cristão autentico está ou pelo menos deve ou deveria estar a caminho contra a correnteza, contra a massa manipulada pela "ditadura da mídia", cuja função é deixar a massa amorfa, ou seja, promover freneticamente ausencia do pensar. Apesar de tudo, existe uma luz no fim do túnel, ou melhor, está luz está em cada um de nós, em alguns mais forte por estar mais próximo de Cristo Jesus na espiritualidade cultivada dia-a-dia, em outros mais fraca, justamente, por estar se distanciando da luz que é Cristo Jesus, esta luz tem nome, no mundo sagrado chamamos de Fé, no mundo profano chamamos de Acreditar, que é a mesma coisa, mas com sútil diferença, Fé é acreditar naquilo que é impossível, é acreditar no invisivel, é acreditar naquilo que é inacreditável, já Acreditar é condição de possibilidade de que a fé seja transcendida, realizada. Acreditar é o motor do carro, a fé é o combustível do cristão, ou seja, Não basta acreditar, é preciso ter fé. Acreditar é próprio do mundo humano, já a fé tem o acreditar como ponto de partida que se inicia na mente humana, mas faz a conexão, ponte com o divino, e por isso que realiza o irrelizável. A fé é o que te movimenta de dentro para dentro, acreditar te movimenta de dentro para fora.
     Há uma disparidade muito grande, mas ao mesmo tempo aproxima tanto o mundo profano do mundo cristão. Um prega a imediatidade e o outro prega a mediatidade, sendo o Mediador Jesus Cristo; um prega auto-suficiência, o orgulho, o egoísmo, o individualismo, o outro prega a imitação da vida de Cristo como salvação das almas pecadoras, modelo de Amor, prega a fragilidade humana e a nossa dependência de algo superior a nós mesmos. Um prega o materialismo, consumismo, vida confortável, outro prega o desapego, a espiritualidade, a vida dificil, a doação, o amor ao próximo, o altruísmo, a individualidade. É possivel uma concialiação com estes mundos tão opostos, tão diferentes?
     Depende, será que já não existe e não conseguimos enxergar por tantos condicionamentos educacionais morais em nossa mente?
     Eis um desafio para os homens pensantes do século XXI, promover uma possivel aproximação destes mundos  numa tentativa um tanto quanto inédita ou inesperada, para barrar a  máquina ou o Leviatã como diz Thomas Hobbes como título de sua obra, do sistema que devora a vida, a alma das pessoas neste turbilhão da contemporaneidade, como salvar pessoas neste mundo? como salvar a si próprio? como salvar as almas?
     Isto sim, seria um ótimo recomeço, uma vida nova para toda humanidade, uma nova era.

Sérgio Augusto Moreira - 23:40 h - 08/01/2011

Comentários

Postagens mais visitadas