Palavras Mortas

"Ao eternizar as palavras da oralidade para escrita, a memória se encarrega de sacralizar o próprio funeral das palavras que um dia foram proferidas com tanto ardor e vigor pelo orador em seu discurso fantástico e imbuído das mais puras ideias, manchadas com as diversas tonalidades das tintas das emoções vivenciadas a cada instante apaixonante da vida."  (SAM)

   Toda palavra tem sua força ativa ou reativa que transforma o ideal em real ao serem não só proferidas, mas também sacralizadas na escrita, imortalizada no pensamento criativo ou não do sujeito pensante crítico e autocrítico que no ato de escrever e transcrever as ideias para o papel, deixa a vida dinâmica da palavra proferida, dita com vivacidade para morrer na escrita de uma obra que será velada, estudada e até contemplada por outrem ao degustar tais letras e palavras escritas dentro de um contexto sócio-histórico-cultural de vida, de visão de mundo e de seus limites enquanto sujeito quebrado e frágil no seu pensar.
   O que seria este processo do sujeito pensante mais também quebrado em si, frágil que tenta dar vida ao que já está morto?
   Talvez uma pura atualização ressuscitante da palavra escrita em tal contexto histórico. Dar vida nova aquilo que algum dia viveu momentaneamente na mente de alguém que pensou algo talvez relevante, mas que pode ser esquecido numa obra empoeirado pelo tempo que consome e guarda tais palavras mortas.
   O tempo, neste caso, torna-se como um cintilante sempre vigilante para velar, zelar e guardar com cuidado as palavras mortas que descansam em paz até serem descobertas por um leitor sedento do saber fundamentado e, ao descobrí-las traz vida nova através da sua interpretação e visão de mundo.
   A vida em si é dinâmica, logo, tudo que matamos com as palavras mortas sacralizadas na escrita e esquecidas no tempo, e ao serem descobertas por um leitor interessado, por conseguinte, cheio de vida e vontade do saber, do conhecer, torna reavivar a palavra dada como morta. Aquilo que tem vida e quando toca naquilo que não tem vida, torna-se vivo novamente, ou seja, a palavra morta sai do seu túmulo para tomar novos ares de novos conceitos e novas significações contextualizadas a época vigente do leitor. O toque é um gesto simples que tem esta força ativa e que reativa trazendo de volta a vida as palavras já consideradas mortas, portanto, sem utilidade nenhuma. A utilidade está na vontade, no querer, no buscar algo novo no velho, buscar vida na morte, buscar sentido no não sentido, buscar compreensão no incompreensivel, buscar eternidade na finitude, buscar felicidade na infelicidade, buscar liberdade na condenação, buscar verdade na mentira ou não verdade, buscar a busca na acomodação de não buscar nada.
   Portanto, nem sempre aquilo que está dado como morto, estará morto de fato, só é preciso tocá-lo, pois, nós como seres viventes temos o dom da vida e dar vida também, basta querer e isto vai acontecer. As palavras mortas ganham vida nova ao serem interpretadas em qualquer época e por qualquer um, eis a dialética do autor(morte da palavra) com o leitor (palavra que revive).

Sérgio Augusto Moreira - SAM 23:32

Comentários

  1. Concordo plenamente.
    Palavras sofrem um processo de metamorfose para serem usadas ao bel prazer daqueles dispostos à usá-las. O tempo, por mais poderoso que seja, não consegue "matar" definitivamente as palavras, as obras e tudo o mais.

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  2. E aí... qndo é o dia do grupo de estudos Physis?

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  3. Varia entre quartas e sextas-feiras.
    Local: sala de informática.
    Horário: 4:05 às 17:05.
    O tema é planejado por quem cuida de duas semanas específicas.

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