Animalidade como forma constituinte da essência do homem.

   
Nós não suportamos mais sermos esmagados, triturados todos os nossos ânimos cotidianamente por este sistema racionalista-econômico que por si só, já é excludente, será que não percebem que a natureza (mãe) e a natureza (humana) é incontrolável? Ou, já não dá mais tempo para voltar?

   Atualmente, presenciamos tamanhas atrocidades violentas do homem do século XXI, que só poderiam ressaltar nossos traços instintuais de animalidade extrema. Não adianta apertar-nos com vossas mãos invisíveis e cruéis porque escapamos pelos vãos dos dedos inóspitos deste monstro do Leviatã moderno que nos impede de sermos o que deveríamos ser, ou, o que somos em essência, se é que temos uma essência. Parece-me que a animalidade humana reclama em tons agressivos tamanha violência que o homem sofre ao podar sua vida.
   A animalidade humana é a própria essência da natureza humana ou apenas uma faceta desta?
   A violência esbanjada na mídia e nosso meio social, é um problema típico do que vem a ser uma faceta da complexidade que é o homem. Até que ponto o homem aguenta suportar as pressões sócio-econômicas desta sociedade neoliberalista? Até que ponto tais atrocidades, a violência de modo geral, não revela que o homem também é um animal, e sendo um animal, nenhum animal está feliz enquanto enjaulado? A jaula do homem não é estar preso a própria racionalidade lógica-consumista?
   Por sermos animais também, somos "recalcados" como dizia Freud, "alienados" como dizia Marx, "coisificados" como dizia Adorno, "burros de carga" como dizia Nietszche, enfim, reprimir a nossa natureza animal é pior, porque gera a "barbárie" fundamentada na racionalidade iluminista tendo como antítese desta dialética do esclarecimento a própria irracionalidade da racionalidade moderna cuja ideia vem de Adorno.
   Será que a felicidade não repousa sob imediaticidade da natureza animalesca do homem?
   Na perspectiva dos instintos humanos sempre fomos alertados pelos grandes filósofos da tradição para usar de certa prudência em relação as paixões e as emoções, como dizia Platão sobre a história de um cavaleiro que representava a razão e dois cavalos, um representava a emoção e o outro representava a paixão. O cavaleiro (razão) deveria direcionar e controlar tanto a força das paixões como das emoções de maneira prudente e comedida, seguindo o caminho reto da razão. No entanto, devemos pensar que deste modo, fica de certa forma enjaulada a nossa animalidade e ancestralidade do instinto humano, e com o tempo de castração pela razão fria, calculista-moderna-tecnocrática, o homem deixa de ser homem por completo, pois, ele é alienado no trabalho cotidiano para esquecer e amortizar suas próprias sensações empíricas, até supervalorizar apenas um ou dois sentidos do corpo(visão - bem explorado e audição - pouco explorado), sendo que temos cinco sentidos, até o sexto sentido pode ser explorado, e só é explorado em nossa animalidade vivenciada no instante de um toque sútil ou brusco, de um cheiro agradável ou desagradável, de um gosto espetacular ou esquisito, de uma visão incrível ou horrível, de um som divino ou barulhento.
   Talvez a felicidade aparece quando nos deparamos com pequenos detalhes que a vida nos oferece a cada instante,  a cada momento mágico que ao percebermos  isto, vivemos e deixamos de sobreviver num mundo ilusório e vazio de qualquer perspectiva de felicidade, pelo menos, aquele segundo mágico você viveu, respirou, alegrou-se, extasiou-se, este momento presentifica-se na terna eternidade.
   Mas esta utópica felicidade é somente momentânea como dizia Schopenhauer, o restante do tempo ou a maioria do tempo é infelicidade, pois estamos enjaulados como animais ferozes que somos, a ponto de expludirmos e cometer as maiores atrocidades por termos sidos tratados tão mal, tamanha humilhação que passamos cotidianamente para sobrevivermos. Enjaulados neste sistema capitalista perverso, onde o mais forte (possui muitos bens-economicamente falando!) vence o mais fraco (não possui bens - economicamente falando!) e, isto, a posse de propriedades privadas, é uma forma de dominação social como dizia Adorno, Marx, pois, ficamos alienados, dóceis (Foucault), dominados (Adorno), escravos da sociedade. Com isto, a violência da animalidade da natureza humana ressurge com toda a força como exemplo: "os homens primitivos", existe um recalque do homem primitivo no seu inconsciente até hoje, a loucura e os surtos são exemplos disto.
   A loucura tida como anormalidade na sociedade moderna desde o século XVIII, na verdade, neste caso, pode ser vista como algo puramente normal, pois, é o grito desesperado e alucinante de um animal enjaulado e maltratado durante muito tempo, e o que este animal homem quer, simplesmente, é ser livre como qualquer animal selvagem, pois o homem é um tipo de animal inteligente selvagem.
   A liberdade tão sonhada pelo homem é proveniente de sua parte animalesca tão reprimida desde muito tempo, desde que houve quebras de paradigmas do século XV em diante, desde que a Modernidade se apresenta como senhora do destino do homem com as "Luzes da razão".
   Queremos a liberdade autêntica na plenitude das nossas vísceras, que não aguentam mais tamanha violência com a própria essência do homem como forma constituinte, a Animalidade.

Prof. Sérgio Augusto Moreira - SAM - 23:00 - 03/05/2011

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