A vida paga seu tributo... reflexão adorniana...

“A vida paga o tributo de sua sobrevivência, assimilando-se ao que é morto.”

(ADORNO, 1985, p.168)



Pensando, de maneira simples e sucinta, a vida é um dom gratuito a cada homem vivo. Por outro lado, porém, se a vida fosse gratuita mesmo, nós não ficaríamos sempre devendo a própria vida, viver a cada instante sua liberdade proporcionada pela intensidade do momento vivido, como único e excepcional, pois, estamos imersos, inertes como se assimilando ao que é morto (boa camuflagem para se autoconservar, ou, para manter-se vivo na aparência da sobrevivência sem graça, sem sabores, sem euforias, sem emoções, sem surpresas, é como assistir um filme preto e branco) à esquematização sistemática do indivíduo que luta para sobreviver na sociedade civilizada, permeada de hipocrisias e grandes ilusões, o qual nós compramos a todo instante para saciar nossa sede do Vazio ou do Nada. Parece-me tão bom sentir-se entediado, pois, acostumamos, acomodamos, camuflamos a vida com a sobrevida. Na verdade, nos contentamos com as migalhas podres, malcheirosas e de sabores horríveis, que a sociedade hiper-civilizada nos oferece através do consumismo desenfreado, ou, o consumismo freneticamente consumido como droga que entorpece nossa mentalidade, e nos condiciona a achar lindo, maravilhoso, um espetáculo, deliciosas fragrâncias e sabores inexplicáveis para os lixos culturais que absorvemos todos os dias da mídia em geral, isto é, é sobreviver nos quase insondáveis resquícios de vida (Como alguém que está com muita sede, e sacia sua sede na sensação de uma gota d’água caindo em sua boca, mas ao cair na boca percebe-se que não é água mas sim vinagre, enganado pela visão e a sede incontrolável), é caminhar no rastro da morte cotidiana (entorpecidos pela certeza de que está curtindo a vida!), adorar o simulacro da vida (que não é vida!), enfim, estamos cegos, surdos e mudos ao que, de repente, podemos chamar de autêntica vida, ou, vida limpa, no limiar da naturalidade do ser humano, nas fronteiras do artificial para o natural, cultuamos o simulacro tecnológico da artificialidade, mas esquecemos que somos natureza corpórea, biológica, espiritual, emocional e psíquica.

Será que devemos retornar aos gregos, mais uma vez, para aprendermos a lição de que nossos mestres do saberes como Platão e Aristóteles disseram em seus escritos, que devemos cuidar das nossas almas não se esquecendo do receptáculo desta alma, que é o corpo? Aonde se encontra a vida? No receptáculo da vida e da morte, o próprio corpo.



Sérgio Augusto Moreira – SAM 02/06/2011 – 23:40 h

Comentários

  1. não devemos prejudicar nossa alma pra ter uma vida melhor
    silas,morgana e thamires

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  2. Em partes sou a favor da crítica "construtiva" feita ao capitalismo, o homem se esqueceu de muita coisa de expressiva importância para se voltar-se totalmente para o consumo.
    Em contrapartida, o sistema financeiro em questão, nos proporciona coisas que chamam nossa atenção como: realização de desejos (mesmo que banais), conforto, estabilidade financeira (mesmo que para alguns).
    Albner
    3º AC

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  3. Concordo Albner contigo, sempre temos os dois lados da moeda... Mas nem tudo que parece é o que é, como você citou, "realização de desejos" - pena que quase 100% dos desejos não são nossos, são implantados em nossa mente pela cultura da mídia, nos incutindo novas sensações, novas ordens para nossa mente executar, então, nossos desejos reais, esquecemos ou reprimimos lá no fundo de nosso baú da inconsciência, quando você compra algo, as vezes, é para tentar satisfazer uma certa inquietude que lhe provoca mta ansiedade, mas é aí q devemos ter atitudes virtuosas de recusar o que não necessitamos, só compramos p tapar o vazio q está dentro de vc, por falta de outras coisas como: amizade, abraços e sorrios, aceitação dos outros e de si mesmo. Enfim, qto mais compramos, mais presos a matéria ficamos, e nós não somos só matéria (Corpo, mesmo q devamos cuidar dele) mas somos tbém espírito... e é isso que nos preenche... o que nos "conforta", o conforto capitalista é ilusório, ter bens, não estou dizendo que não é bom e importante tê-los se vc realmente deseja, mais que existe algo há mais, existe vida invisivel aos nossos olhos... e satisfazer a alma q é o melhor negócio... "estabilidade financeira" todos desejamos e sonhamos ter, mas a própria estabilidade é instável, basta mudar os planos econômicos no mundo, q a crise se instala p a maioria, tudo é provisório e passageiro... cultive a vida no espírito e não só na matéria... compreende?

    Prof SAM

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