A Hipocrisia fede?

     A hipocrisia é alimentada pelo desejo de sobrepor ao outro que atravessa seu caminho. Fundamentando a origem da hipocrisia refletiremos sob a célere sentença filosófica Hobbesiana ("Omini Lupus Omini" - "O homem é o lobo do homem"). A hipocrisia se instala exclusivamente na aparência, pois, o disfarce da bela apresentação (palavras polidas, postura, status social com belas roupas, entre outros) é, justamente, para esconder o que tem de horroroso no seu interior com suas atitudes cadavéricas, pensando em seu íntimo orgulhoso, que nunca será mostrado seu lado corrupto.

     O hipócrita é aquela pessoa que tem a mania de endeusar a sua aparência e dos outros, e rejeitar àqueles que não tem boa aparência, por ser convencionalmente válido em nossa sociedade: a beleza como fonte de rejuvenescimento, ou melhor, o que é valorizado é a casca e não o conteúdo, adoramos o que é belo aos nossos olhos e rejeitamos a beleza interior.

     Comumente afirmamos: "Lobo na pele de cordeiro", mas de certo modo, podemos afirmar atualmente a inversão desta sentença no qual chamamos de "hipocrisia do bem" - "O cordeiro na pele de lobo" (aqueles que se fazem mau, mas no fundo são bons), mas por quê? Simplesmente para sobreviver no sistema corrupto e cruel que vivemos, temos que nos adequar a maioria, de maneira disfarçada, ou seja, é uma capa protetora identitária, no qual a capa pode ser retirada num momento específico, com o intuito da conversão do lobo em cordeiro, basta uma brecha para revelar sua identidade em segundos para iluminar o lobo solitário e cansado de ser lobo.

     A "hipocrisia do bem" diferentemente da outra hipocrisia não fede, mas exala perfume da natureza, que somente um semelhante poderá perceber e sentir a sútil fragrância da leveza da alma, inundada de bondade em seu interior.

     Mas será  que esta "hipocrisia do bem" não é tão perniciosa quanto a outra ?

     De certo modo, depende do ângulo que você enxerga através da interpretação correta do momento, do contexto, sendo que cada situação te obriga a tomar certas atitudes, como no exemplo da hipocrisia, nos camuflamos do que a sociedade nos oferece cotidianamente: crueldade e violência, para preservar nossa bondade em nosso íntimo. Mas poderíamos perguntar: A bondade não tem que ser doada, mostrada? Nem sempre, porque, algumas pessoas não compreendem a dimensão da bondade por estarem mergulhados na maldade constantemente, como diz o ditado: "Pior cego é aquele que não quer ver". É uma questão de sobrevivência. Então, a hipocrisia do bem pode ser perniciosa sim, tanto como a outra, desde que não se acostume fingir e mentir a todo instante, é preciso resvalar, manifestar a verdade como lembrança do que você é de fato. A hipocrisia do bem é a arma camuflada de falsidade resguardando o verdadeiro. Já a hipocrisia é a hipocrisia, seja ela numa concepção maniqueísta entre bem e mal ou não.

     A hipocrisia é uma mascara de aparência fingidora, que se importa com o belo, que não é o Belo, é apenas o belo fútil que se corrompe e é finito; já o Belo autêntico preserva o seu interior ornamentando seu caráter e personalidade com atitudes firmes e convictas na crença do Belo presente em suas vidas.

     O hipócrita é acomodado com as facilidades de ser falso, ser lobo é evitar esforços sacrificantes para se chegar aonde se quer. O lobo luta por si só, e usa os outros, suga as energias até o momento conveniente, então, ele força os outros para trabalhar para ele, e ele fica só esperando, acomodado. Já o cordeiro disfarçado de lobo, está se protegendo do mal com o mal, não significa que ele pratica o mal, ele fingi, assim como o lobo fingi praticar o bem.

     Retomando a questão acima levantada: mas é preciso mesmo caracterizar a hipocrisia numa concepção maniqueísta entre o bem e o mal?

     Determinar o que é do bem e o que é do mal, é muito relativo e até dogmático, depende do ponto de vista: se tomamos a frase hobbesiana: "o homem é o lobo do homem" como base, então podemos num momento ser o lobo ( que tanto pode representar o bem e o mal), como noutro momento ser o cordeiro (que tanto pode representar o bem e o mal), por isso, podemos afirmar a relatividade do momento que pontua para onde tende a sua hipocrisia, porque, no fundo todos nós somos hipócritas, o que importa é saber para onde tendenciamos e usamos quando nos é conveniente, no tempo certo.

Sérgio Augusto Moreira - SAM  - 20:30 h