Imoral ou Amoral?

    Certamente há uma diferença crucial entre imoral e amoral que define, segundo o cristianismo, comportamentos “errantes” e “ignorantes” mediante os homens e a sociedade.
            A imoralidade nos acompanha já no seio materno com a mancha do pecado original imbricado no ser humano desde sua concepção.
            O imoral é aquele que segue a doutrina cristã, conhece os dogmas do cristianismo, mas não consegue vivê-los, porque caem vítimas do pecado, do erro, das paixões voluptuosas que são passageiras. Seu comportamento é vacilante, ora segue os mandamentos, ora segue os instintos prazerosos mundanos, então, torna-se escravo de suas próprias paixões.
            O comportamento “errante” do imoral é condescendente a sua tibieza, ao seu vício carnal, por isso, obedece ao seu instinto animalesco e esquece-se de evoluir como criatura divina. Mas não somos todos “errantes”, porventura, somos manchados pelo pecado original?
            Somos, mas isto não significa que estaremos condenados ao erro do primeiro homem – Adão e a primeira mulher – Eva, eternamente, pelo contrário, é, justamente, por isso, que Deus apresenta a Moisés a tábua dos 10 mandamentos, que foram sintetizados em apenas 2 mandamentos por Jesus Cristo, Nosso Senhor: Mateus 22, 37-40 : “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Deut 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lev 19,18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.”
Segue estes dois mandamentos e extirpará a imoralidade e suas ilusões nocivas a qualquer homem desregrado. Na filosofia socrático-platônica existia um princípio ético que se encaixa na proposta do cristianismo para afastarmos das ilusões imorais, que é: “Nada em excesso e nada em falta”. Este princípio nos orienta para ações justas e prudentes, contrapondo a qualquer excesso proveniente das atitudes imorais.
O imoralismo localiza-se, pontualmente, nos exageros cometidos por nós em qualquer área de nossa vida: emocional, mental, física, afetiva e espiritual. A prudência é uma virtude interessante que se localiza entre os extremos opostos viciosos tanto do excesso como da falta e, também é um fundamento de uma vida próxima da fonte do equilíbrio que garante a harmonia unindo tua mente com teu coração tendo como resultado uma alma alegre. Portanto, é de salutar importância a vivência dos preceitos cristãos, do evangelho (a boa nova), em particular, porque, a bíblia sagrada é o livro bussola para todos nossos questionamentos em vida terrestre ou celeste. Sobretudo, se seguirmos tais preceitos afastamos a imoralidade de nosso corpo, e suavizamo-nos com o sopro restaurador do Espírito Santo.
As conseqüências dos atos imorais são: confusão mental e espiritual enfraquecendo nossa fé; absorve nossas energias vitais para fins funestos, egocêntricos e até maldosos; distorcem os nossos sentidos ofuscando nossa visão, nossas convicções; enclausuram nossa vontade de poder viver; aprisionam nosso espírito; contaminam-nos com a semente da hipocrisia. Enfim, é trilhar o caminho da escuridão, sem saber, ou melhor, até sabemos, mas arrumamos desculpas para nos auto-enganarmos e continuamos no lamaçal das mentiras e, então não temos força o suficiente para sairmos do poço fundo de areia movediça, chamado misérias humanas.
A solução provisória é a disciplina de mente, corpo e espírito.
A solução permanente é a disciplina ascética na rejeição dos atos imorais numa atitude invejável e louvável. Eu diria que é trilhar o caminho da santidade no cristianismo, a ascese espiritual que perpassa pelo corpo e mente. No entanto, esta ascese é árdua e sofrida, porém, nos purifica (é catártica) dos nossos egos super-inflamados e nos eleva ao Altíssimo na condição de criatura divina.
O esforço é necessário para alcançar a santidade no cristianismo e aproximarmos de Deus, purificados de toda imoralidade cometida consciente ou inconscientemente. Assim como a prudência é uma virtude, o esforço é uma característica virtuosa, o esforço interior, a força interior é a virtude (vírtus). Nada que queiramos, nada que sonhamos, se realizará sem a mediação do esforço ascético.
Mas existe outro tipo de esforço: o egoísta, que promove a preservação da autoconservação da espécie humana, seja qual for sua raça, credo, língua ou nação. Hoje em dia, exaltamos o egocentrismo contra o altruísmo (proposta do evangelho), exaltamos o que temos, mas não o que somos, exaltamos o que criamos (tecnologicamente falando), daí consideramo-nos mini-deuses, porque, só penso em mim, só eu que sofro, só eu que preciso, só eu que trabalho, mas na verdade, é grande mentira, porque só sou o que sou através do outro e com o outro. Por isso, sozinhos não somos nada, juntos somos mais.
Então, só conseguiremos isto, se tivermos esforçado o suficiente para provarmos que a disciplina é tão válida quanto beber água todos os dias, se deixarmos de beber água por um dia, certamente, ficaremos sedentos, então, senão esforçarmos diariamente contra os ímpetos da imoralidade que, de certa maneira, está “colada”, “impregnada” em nosso ser, morrerá de sede sedenta como um deserto árido, querendo, pelo menos, uma gota d’água mesmo que seja de suor ou sangue da sua disciplina ascética em “viver o evangelho todos os dias”, segundo o qual, esta gota poderá estar salgada conforme o não comprometimento sincero da vivência do evangelho, no entanto, o bom efeito desta gota está compromisso, daí esta gota torna-se tão doce, tão suave, tão saciadora que nunca mais experimentaremos tal sensação e, além do mais, basta uma gota desta para saciar o deserto que há dentro de ti devido às ações impensadas na imoralidade, basta uma gota.
Retornando ao comportamento “errante” do imoral, compreendemos o quanto a imoralidade desertifica a alma de qualquer cristão na sua fraqueza e insensatez.
Em contrapartida, temos outro comportamento fundado na amoralidade, um comportamento “ignóbil”.
Primeiramente, vamos entender o que vem a ser amoral.
Amoral é aquele que talvez nunca seguisse um dogma cristão, por isso, vive-se de qualquer forma, sem um parâmetro, um paradigma, aliás, seu paradigma é teu ego. É ignorante no sentido de regras para bem viver, é aquele que não conhece, talvez, por falta de oportunidade, porque se tivesse aproveitaria bem melhor do que o imoral que já conhece.
Neste sentido, é melhor ser amoral do que imoral, por que o imoral já conhece mesmo assim peca (erra), já o amoral continua sendo o que sempre foi, porque não conhece e, mesmo se ele rejeitasse tal oportunidade, continuaria a mesma coisa, falta o contato com a palavra de Deus, ele se encontra como se fosse imune em sua imanência. Como vou culpar alguém que não conhece? Como vou culpar alguém de “ignorante” se ele não sabe ler? Portanto, o amoral não sente tanto o peso da culpa como imoral sente, e como sente.
Percebemos que o imoral sofre mais que o amoral, pelo menos, até este momento.
Lembrando o evangelho, Jesus diz assim sobre a imoralidade e quem é imoral:
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos de homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais monumentos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas...” (Mateus 23, 25-30)
Enfim, ai de vós – imorais que conhecem os preceitos divinos, mas não vivem. É claro o alerta de Jesus, a todos os cristãos que ainda vivem na imoralidade, apegados ao a vida mundana dos prazeres.
Que não nos igualemos aos fariseus hipócritas imorais!
Que a virtude da prudência esteja tanto em nossas falas quanto em nossas ações!
Que o testemunho de vida prudente seja luz para aqueles que vivem na amoralidade!
Como o Senhor nos diz: “Limpai o copo por dentro.” Cuidai vós do vosso interior, limpe, purifique o seu interior, que o exterior, nada mais é do que o reflexo do interior.
Desapegue de si mesmo, desapegue-se da carne, desapegue-se daquilo que te leva ao caminho da morte, desapegue-se das suas inclinações, desapegue-se das suas mentiras e, principalmente, desapegue-se do seu orgulho, porque você (sozinho) não pode tudo, mas para Deus, nada, eu disse, nada mesmo, é impossível, creia nisto e viverás. Não precisarás se preocupar com mais nada, porque tudo se reverterá ao seu dispor, sem nenhum esforço.
A amoralidade tem seus efeitos colaterais desconhecidos pelo seu próprio agente. São eles: a insensibilidade e apatia, a indiferença frente ao próximo, a inflexibilidade, o orgulho envaidecido, a sombra e o apego aos bens materiais. Para o amoral é natural agir desta maneira, fria, pois, o que importa para ele, é simplesmente ele mesmo; o outro é objeto de manipulação, eu posso usá-los para minhas conquistas materiais, sobretudo, só porque eles se encontram no estado de ignorância não significa que eles estão isentos de qualquer culpa, ele também carrega o pecado original; já o imoral educado nos dogmas cristãos, mesmo assim fraquejou na fé, Jesus disse: “homens de pouca fé” para seus apóstolos, imaginem nós, meros discípulos, então, mesmo assim o cristão ciente das conseqüências do pecado, ainda peca, porque será?
Porque achamos que sabemos que é melhor para nós. Por isso, na corda bamba dos opostos da imoralidade e da amoralidade, o melhor que se tem a fazer é buscar detectando dentro das nossas imperfeições morais as sujeiras e começar a limpar pouco a pouco, num processo de conversão plena interior, para assim, que quando estejais preparados e protegidos poderão enfrentar as adversidades do mundo exterior (espíritos malignos), sem medo e sem vacilar, porque, o Senhor, cresce dentro de ti, com sua purificação, e renovas todas as suas forças, dia após dia, para cumprir sua missão.
Entre estes opostos encontra-se na rejeição destes, a fina flor da Santidade, tão linda, tão meiga, tão doce e terna que exala o perfume inigualável, contagiante do bem-estar.
Neste caminho da santidade surgem atitudes pontuais que marcam as características da santidade: a precisa prudência do pensar (afastando maus pensamentos), do falar (o silêncio é a melhor resposta para tudo), do agir (no momento certo); a compaixão tão desconcertante quanto o orgulho cego – acompanhada de ternura, bondade e misericórdia; o amor incondicional a Deus, a Jesus e Maria.
Enfim, entre e contra todas estas adversidades da imoralidade e da amoralidade que tanto atrapalham trilhar um caminho da santidade, surge abruptamente deste lodo, a mais bela flor, a busca da santidade que exala amor de Deus para vencer todos nossos medos e angústias sofridas e aquelas que ainda vamos sofrer, todas as incontinências que nos desviam do caminho “predestinado” a todos, os filhos de Deus.
Para desvencilharmos deste emaranhado de confusão imoral e da ignorância amoral, apoiemo-nos no amor de Deus, na sua graça, para conseguirmos dar respostas a Deus, a nós mesmos e aos outros.
Parece que a santidade nos dias atuais, está em desuso, fora de moda, foi uma coisa da época medieval, será?
A sociedade contemporânea prega que a santidade é algo sem sabor, sem cor, sem cheiro, sem vida, entretanto, a santidade é, justamente, o contrário, é melhor sabor que podemos oferecer para Deus e nós mesmos, a cor predileta de Deus, é algo mais agradável e de perfeito odor para ofertar a Deus, é, perfeitamente muita vida, sim, vida em abundância.
Finalizando, não nos preocupemos tanto com a imoralidade ou com a amoralidade, se estivermos praticando a santidade diariamente. O que devemos preocupar é praticar o bem, e fazendo isto preenchemos com o bem, assim o mal deixa de existir, porque o bem se expandiu, conforme o que Santo Agostinho nos disse: “O mal é ausência do bem.” Já que é assim, simples, pratiquemos o bem e pronto, não terão espaço as imoralidades e amoralidades.


Sérgio Augusto Moreira – SAM – 19:48

Comentários

  1. O mal acentua o lado sombrio da psique humana.É só com a integração da nossa sombra que podemos então ter consciência do principio errante.Passando então a aceitar os nossos aspectos negativos e positivo em nós mesmos.Aceitar que somos luz e sombra ao mesmo tempo e que não precisamos amar os nossos defeitos , mais nos amar apesar deles.Não precisamos ser perfeitos, mas também não precisamos ser tortuosos.Basta não mentir aos ouvidos de quem ouvi, nem aos olhos de quem o vê.Somente quem aceitou a sua sombra poderá ser capaz de lidar com as sombras alheias sem pré julgamentos nem subjetividade pois sabem que apesar do aspecto sombrio de cada um, é apenas sua serperticice que o está guiando enquanto ele dorme em sono profundo.E também sabe que assim como a luz iluminou seu próprio jardim, ela também iluminaras a de outrem.Na ordem natural do Universo.Porque na verdade, quando mais nossa consciência adota uma atitude de guerrear contra, disposta a defender aquilo que temos como primordial, isso na verdade é só uma defesa que ela encontra por um medo inconsciente de um impulso que ela sabe que pode eclodir na guerra.


    Parabéns pelo texto de seu blog.Deixo aqui a minha reflexão sobre alguns aspectos.Um abraço.

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