“Jardim suspenso da Babilônia Filosófica”


            Pense num jardim repleto de flores belas, de rosas esplêndidas, de aromas e cores espetaculares, que ao adentrar e contemplar este magnífico jardim, o qual não é suspenso, só se for às ideias, mas bem real. Basta não só adentrar e maravilhar-se somente com o jardim em si, mas estar atento ao que existe. No entanto, é necessário ter semeado, plantado a diversidade das belezas que irão florescer aos nossos olhos, aos nossos corações, as nossas mentes num belo dia.
            Aliás, este jardim nos impressiona com tamanha e beleza colossal, porém, para enxergar tudo isto é necessário imaginar por onde tudo brotou. Começa debaixo da terra, com a morte das sementes variadas espalhadas neste jardim imenso numa terra fértil, pronta para acolher a diversidade dos entes. Então, logo em seguida, inicia a germinação e vai até o ponto de desabrochar dos infindáveis entes que se manifestam o seu ser, no simples existir, aquela bela rosa que nos toca no seu simples existir, eis o belo.
            O que é preciso enxergar o visível ou o invisível?
            É preciso não só enxergar as belezas exteriores que estão aí “Dasein” heideggeriano, que se manifestam aos nossos olhos, ao nosso ser, no compartilhamento do ente com o ser, mas também é preciso enxergar as coisas invisíveis, o processo interno debaixo da terra deste jardim tão belo, justamente, para conhecer a profundidade das raízes. O invisível é tão visível quanto parece, basta abrir os olhos da alma.
            A beleza não aparece de repente, teve todo um processo de transição “morte e vida”. A semente morre para que a vida renasça nas diversidades de plantas, flores, rosas, orquídeas e girassóis que brilham e nos convida a contemplá-las. Do mesmo que, a semente morre para que se criem raízes profundas neste jardim babilônico não utópico, pois, são tão reais quanto os êxtases suspirantes que este jardim arranca de nós.
            O jardim babilônico suspenso é pautado pela filosofia. O chão é muito mais amplo e fértil do que se imaginam devido às variadas correntes filosóficas que se origina com o primeiro filósofo – “Tales de Mileto” e vai até os nossos últimos filósofos “moicanos”, porque já estão se extinguindo.
Estamos na era virtual, por isso, não existem filósofos reais existentes, foram absorvidas pelo impacto virtual em suas vidas, o impacto audiovisual tecnológico do século XXI, colocando-os frente à pseudonecessidade de estar conectado com o virtual diariamente, e esquece-se de se conectar com a natureza da onde viemos e para caminhamos “a morte”. Bom, se existem filósofos ainda, eu não sei, mas devem estar escondidos nos seus guetos acadêmicos, se agarrando ao máximo no que restou do conhecimento universal, talvez alguns em pânico, porque até os livros se virtualizaram, temos o ebook, livros virtuais. Na verdade, temos um único filósofo que responde exatamente tudo o que você perguntar, é o oráculo não de Delfos, mas da Google. Eis o nosso único filósofo – Google - digite que você encontra, para que precisaremos dos filósofos reais, se já temos um oráculo tão completo como o Google?
Retornando ao nosso jardim suspenso da babilônia filosófica, o Google não se encaixaria porque ele se tornaria uma mônada virtual spinoziana. No nosso jardim, as sensações estão bem presentes e se interagem quanto mais você interfere na vida manifestada por aquelas belíssimas diversidades se mostrando aos nossos olhos. O jardim é real, o Google é virtual.
Imagine como seria este jardim.
Quem sabe “Tales” representa “a flor de lótus” naquele brejinho, despontou-se lindamente àquela flor com o brilho que brota do surgir da filosofia, próximo das árvores grandes, ou, àquela “fonte d’água” bem no meio do jardim, imensa e transbordante, onde tudo brotou, a vida nasce ali.
Quem sabe “Pitágoras” representa “a perfeição harmônica milimetricamente” de cada parte daquele jardim, tudo bem distribuído, nada fora do lugar, sempre no lugar que deveria estar. Quem sabe “Parmênides” representa “alma” daquele jardim, o “Ser” totalizante das belezas expostas neste jardim. Quem sabe “Heráclito” representa “o jardineiro” que modifica uma planta de um lugar para outro, uma rosa de um lugar para outro, procurando equilibrar a harmonia do jardim, ou, representa “as ferramentas do jardineiro”, que são instrumentos para restaurar, cuidar, criar, recuperar respeitando as diferenças. Até porque o “jardineiro” poderia ser eu ou você que se envolve com a filosofia, em seus primeiros passos, ou, o próprio Deus – autor da vida.
Quem sabe “Platão e Aristóteles” representam são “árvores frondosas de raízes profundas” deste jardim, ou, podem representar “as ervas daninhas” que sufocam as outras plantas, matando-as vagarosamente. Quem sabe “Sto. Agostinho” é arvore de frutos bem doces, que nos eleva a buscar as coisas do alto, por ela ser tão alta, parece que toca as portas do céu. Quem sabe “Descartes, Kant e Hegel” representam as belíssimas e intocáveis orquídeas, são tão frágeis que se tocadas bruscamente podem vir a despencar.
Quem sabe “Karl Marx, Nietzsche e Freud” conhecidos como “mestres da suspeita” representam cada flor exótica, bem diferente, estranha, esquisita, até tão esquisita que se torna bela, ou seja, faz parte da diversidade existente deste jardim, porque sem eles faltaria algo neste jardim, a beleza compreende também o feio, o estranho, o esquisito. “Marx” representa “o girassol” que só se abre quando sol raiar e fecha-se ao anoitecer. “Freud” representa “as margaridas” ‘puras’ e ‘branquinhas’, mas ao arrancá-las, murcham e morrem. “Nietzsche” representa a plantinha “maria sem-vergonha” dá em todo lugar, ou, representa o “cactos” intocável, porque pode machucar-te, mas, entretanto, o “cactos” guarda dentro de si, a água mais fresca no calor do deserto.
Quem sabe “Adorno e Habermas” (um é um dos fundadores da escola de Frankfurt, e o outro, é o expoente desta mesma) representam cada um, “uma rosa” de cada cor: uma vermelha e a outra branca. Mas estas rosas são bem espinhentas, que ao tentar pegá-la, te espetará com suas teorias sócio-filosóficas tanto na estética como na política.
Por fim, se eu fosse catalogar todos os filósofos da História da Filosofia, com certeza não conseguiria, pois, este jardim é grandioso, mas não contém todas as espécies de plantas, talvez este jardim, fosse o Jardim do Éden, não da Babilônia. O jardim do Éden é o todo, é a unidade do Ser, já o jardim da Babilônia é a diversidade dos entes, não o seu Todo.
Bem toda esta reflexão nos remete as belezas exteriores diversas deste jardim, porém, é preciso estar atento e contemplar também o mundo interior, debaixo da terra, como observar quão profundas e superficiais é algumas raízes.
As raízes se aprofundam assim como a cada nova filosofia brotada do solo fértil (mente humana), adubado, cuidado pelo próprio amante do saber ‘philósophos’. A diversidade é o colorir do mundo, mesmo, que por algumas filosofias queiram sobrepor outras filosofias tão perfeitas como aquelas trepadeiras que sufocam as mais novas e mais belas plantas e flores, às vezes, plantas há muitos séculos como a metafísica.
Cada flor, rosa, planta, árvore, tem sua especificidade própria dentro da diversidade encontrada neste rico jardim, de acordo com a lei da natureza, conjuntamente desde semear até o seu surgir, no esplendor do jardim. Em contrapartida, as filosofias e seus vieses contêm suas especificidades que são fundamentadas em outras bases mais antigas, que já se encontram enraizadas na mentalidade dos homens. Mesmo que algumas filosofias usem e abusem de outras filosofias para sufocar e até matar as nascentes filosóficas que surgem no fluir da diversidade, ainda que esta diversidade se complemente só no geral.
Suspender a filosofia como se fosse o jardim babilônico caricaturarizado pode ser tão imprescindível quanto revelar sua realidade diversa.
Que tal cuidar deste jardim? Que tal aguar estas belas plantas e flores? Que tal adubar este jardim? Que tal preparar esta terra fértil que é sua mente para novas ideias brotadas do solo dos filósofos? Que tal experimentar a natureza pela natureza? Que tal sentir o ar fresco das árvores frondosas? Que tal repousar embaixo das sombras suaves destas árvores? Que tal sentir o cheiro de libertação do pensamento e da alma ao cheirar um lírio do campo? Que tal saciar nossa sede na fonte d’água cristalina e refrescante?
Que tal deitar na grama verdinha e banhar-se dos raios solares energizando-nos, vitalizando-nos? Que tal caminhar neste jardim experimentando a liberdade da verdade na brisa que sopra em tua face? Que tal sonhar com dias melhores, mesmo, estando experimentando neste momento um deserto seco e árido? Que tal viver e não apenas sobreviver? Que tal pensar ao invés de chorar? Que tal abraçar ou invés de esmurrar?
Que tal sorrir ao invés de mau humor? Que tal amar como a mãe natureza sempre nos amou? Que tal ser o que você é e esquecer o que você já foi? Que tal conversar com Deus, mesmo, desacreditado de sua existência?
            Em qual labirinto você se encontra? Em qual lugar você se encontra? Em qual ambiente você está? Em qual plano você se percebe? Em qual localidade você está perdido? Em qual jardim você está, ou, em qual deserto você se encontra?
            A filosofia tanto pode ser encontrada num lindo jardim como num árido deserto. Basta ir à fonte criadora de tudo isto de maneira natural, respeitando a ordem natural das coisas, com harmonia e serenidade, tudo está dentro de você. Cuide do seu jardim. Deus criador de tudo e todas as coisas te pede isto, hoje e sempre, te conduz se você o permitir, o seu coração pode ser um solo fértil ou um deserto sem água. A água viva é Deus que brota em sua alma quando chora ao contemplar a beleza deste jardim suspenso da babilônia filosófica. É Ele que te leva a este jardim, é Ele que te dá este jardim para cuidar, não o desaponte. Seja obediente na palavra, obedeça a natureza do teu corpo e da tua mente, sacia as necessidades do teu corpo como as plantas fazem naturalmente.
            Chega de levar uma vida artificial, leve uma vida natural no frescor de suas atitudes pensadas e frutificadas no alvorecer do seu Ser, não tenhas medo, apenas Confie. Siga o caminho deste jardim, busque este jardim e encontrarás. Não desista, pois, a filosofia será seu farol da prudência, da temperança, do bom senso contigo e com os outros. Não espere mais, apenas caminhe sobriamente.

Sérgio Augusto Moreira – SAM
28/06/12 – 17:15 h

Comentários

  1. Existe uma íntima relação entre o poeta e o filósofo, uma fina seda que separa os dois universos, mesmo que provisoriamente! Lembro-me dos poetas-rapsodos de outrora, homens sagrados, falavam em nome do divino (mitológico), homens cheios do saber tradicional... Rubem Alves disse certa vez que é prova de extraordinária sabedoria "ver o mundo num grão de areia ou o oceano numa gota d'água". Foi assim que sentir ao ler seu texto. Mas os caminhos humanos são todos sem direção, andamos a ermo, sem direção até chegar os Grande Dia, o reluzente e esparançoso, no qual veremos a Verdade face a face, até lá, tudo é poesia ou quimera. Não somos os donos da verdade, Ela é que nos possuem, o numenor, o Phainomenum, o transitório que há em nos clama por algo maior, Sobrenatural, para além do sofrimento do cotidiano e dos doces e fugazes temperos diurnos, almejamos a "Eternidade da Alegria". Penso ser esse o desejo mais latente na alma humana, que somente é, e será saciado com a presença amorosa de Deus, na ação do Espírito Santo, e na aceitação do seu Cristo, Jesus. Acho que é isso!
    Prof. Mauro de Souza - escritor e filósofo.

    Taubaté terra de corações abençõados.

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    Respostas
    1. Com certeza Mauro, somos seres em transitoriedade em direção, para eternidade, e "eternidade da alegria", como tu disseste bem. Concordo que exista uma tênue relação entre o filósofo e o poeta, onde podemos tocar e brincar com as palavras ontologicamente no "Phainomenum", sem perder o sentido, aliás, só acrescenta mais ainda o sentido, quando misturamos poesia com filosofia, arte e filosofia. Já dizia Adorno (DE,1985, p.31,32) "[...] a filosofia enxergou-o na relação entre a intuição e o conceito e tentou sempre em vão fechá-lo de novo: aliás, é por essa alternativa que ela é definida." Intuição é o feeling que se espreita a manifestação artística, o conceito é a unidade estrutural lógica do pensamento, e o importante não é um nem outro, mas o que sucede entre eles, "a vida como ela é" já dizia o poeta e o que disse Adorno também, e a filosofia sempre foi definida por estas diversas tentativas de fechar conceitualmente o "Ser", eu diria, fechar o caminho para a "Eternidade da alegria", como tu disseste...
      Esse caminho é Jesus, não só caminho, como verdade e Vida em abundância, basta não fecharmos intuitivamente e também na racionalidade, pois quanto mais aprofundamos na filosofia sem tocar e tentar comungar, mesmo que de maneira fraca, a fé, a arte, tudo será esclarecedor mediante perspectiva mundana e não rumo ao que sempre fomos chamados para eternidade... sendo assim, se tornará obtuso e nada esclarecido... Eu não acho que é isso, mas tenho certeza absoluta pautada na fé que tenho no único nome poderoso neste mundo e no outro também, "é o nome de Jesus Cristo"...
      Fé, Coragem e Amor... tríplice atitude do cristão do século XXI...
      "Amar à Deus sobre todas as coisas, com todo teu coração, com todo teu corpo, com toda a tua alma, com todo teu espírito." (Deut. 6,5)

      Prof. SAM Deus abençoe em sua missão!

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