“Bolha Saudável”


      Viver nesta sociedade neurótica e frenética torna-se cada vez mais insuportável, muita corrupção e muitos corrompidos pela sedução do poder a qualquer custo, muita dessacralização do sagrado, estão extinguindo as pessoas de bom senso, as pessoas estão perdendo a noção de limites de escrúpulos, de lógica e de atitudes, causando assim um crescimento do narcisismo em nosso modo de ser e proceder no cotidiano com a maior naturalidade. E na verdade não é bem assim.
         Mas será que estamos perdidos?
         De certo modo, podemos até nos sentir perdidos, porém, se conseguirmos vislumbrar o nosso interior, perceber que Deus ainda habita no seu interior, mesmo sabendo que sua casa (seu coração) se encontra suja pelos seus pecados, ao passo que, mesmo assim há esperança, há uma pequena luz que brilha forte no seu íntimo, como uma luz que brilha no fim do túnel.
      A esperança é a fagulha que ainda fumega constantemente, mesmo sendo sufocada, abafada pelos pessimistas / realistas de plantão. A esperança nos tranquiliza tal como um barco num mar revolto se atraca no porto seguro. Ela abre portas e oportunidades para viver sempre à espreita do novo.
        O novo nos estimula a sempre buscar o inatingível, o infinito, o eterno, o que sempre nos acompanhou e quis nossa existência. Todo este movimento nos impulsiona inevitavelmente ao Amor Infinito, que sem dúvida nenhuma, Deus que é Amor.
       Quando nós homens nos desprendemos, nos desvinculamos do Amor Original – Deus, logo, nós ficamos soltos no universo das possibilidades do existir. Perdemos o sentido natural da nossa existência, perdemos a essência do amor, ficamos sem direção, sem norte nenhum.
         Entretanto, esta fagulha de Deus em nós que é o ponto que nos conecta não só com Deus, mas com toda a humanidade, ela clareia o nosso interior todo obscuro, ela te move a fazer o bem, a querer o bem, a pensar o bem, ela mantém a vida sendo alimentada e gerada pelo amor de Deus em nós, ela nos defende e nos protege das ciladas do inimigo.
      Contudo, parece que às vezes a força das trevas é maior do que as forças da luz, é apenas uma impressão e não é  a primeira impressão que fica. Sou forte, quando sou fraco, parafraseando o apóstolo São Paulo, quando pensam que sou fraco, frágil, o Espírito Santo meu Defensor, me fortalece, me revigora, justamente para aguentar o tranco que é viver nesta sociedade transloucada. É somente alimentando da força que vem do Alto para se manter de pé lutando contra tudo e todos.
       O alimento desta luz é a Palavra de Deus, e a busca deste combustível é através dos sete sacramentos da Santa Madre Igreja, citando dois principais deles: o sacramento da Reconciliação, e o principal, o sacramento da Eucaristia.
       O Sacramento da Reconciliação é o que nos oferece as portas do céu abertas para sua salvação, cujo sacramento nos impulsiona ao encontro com Deus Pai todo misericordioso, derramando todo seu amor para com o pecador arrependido. Lava a alma e insere no caminho do céu. A fagulha de luz em nosso interior se rejuvenesce com a busca deste sacramento, dá vida nova, novo alento, revigora com a Eucaristia.
      A Eucaristia é o pão da vida, o ápice da vida cristã, participando deste banquete do cordeiro imolado, que é o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, Nosso Senhor, comendo do seu corpo e bebendo do seu sangue para ganhar a vida eterna.
      O Sacramento da Eucaristia é sinal visível que Deus nos ama infinitamente, que Ele quer nos salvar, Ele quer nos proteger, nos guiar para o caminho da luz eterna.
     Em contrapartida, a sociedade do século XXI impulsiona-nos a seguir a natureza humana instintiva, animalesca, o qual a razão é instrumentalizada para fins perversos de manipulação e coisificação do ser humano.
      Quanto mais individualista for, mais me torno inumano, ao passo que, Thomas Hobbes já teria sinalizado uma das facetas do ser humano com a clássica frase: “o homem é o lobo do homem.” Encontra-se justamente neste pensamento o gérmen do individualismo, ou seja, faz parte da natureza humana. O homem tem suas inclinações tanto para o lado instintivo como para o lado racional, basta escolher que caminho trilhar.
     Portanto, mesmo participando dos sete sacramentos, mesmo tendo fé suficiente ainda é pouco, porque com esta mentalidade pagã crescendo entre nós, dificultam a presença amorosa de Deus em nosso meio.
      Talvez um único meio seria viver numa “bolha saudável.” Como seria isto?
      A bolha saudável, eu diria, que seria uma maneira suportável de viver e sobreviver nesta sociedade a ponto de explodir num caos. Uma maneira suportável de viver o insuportável.
     Seria uma aproximação de pessoas com a mesma afinidade de gostos e de pensamentos, se identificando e até mesmo morar próximos, se for o caso, como se fosse uma comunidade saudável. Aproximando os interesses e as intencionalidades tornando-se um grupo com conflitos construtivos, justamente, indo na contra mão desta sociedade neurótica.
     A bolha saudável cria fronteiras tendo como ponto de partida as nossas intencionalidades e interesses em comum do grupo transformando-a futuramente numa comunidade que pode ter como princípio básico: a saúde humana em todas as áreas da psyque humana: emocional, psicológica, intelectual, afetiva, sexual, social, tendo como prioridade: espiritual.
     A área espiritual tem que ser prioridade, porque se viemos do autor da Vida, Deus, então, é com Deus que teremos o que necessitamos de fato. Contudo, a oração será o cordão umbilical ligado ao Criador que nos criou. Este elo será como um casamento indissolúvel, nada poderá romper este Elo que nos une, que nos anima, que nos protege, que nos ama de verdade.
     Fortalecendo a área espiritual, ficaremos prontos e preparados para o combate final entre o bem e o mal, e esta hora já está chegando, basta ver os sinais que se apresentam aos nossos olhos.
  Uma segunda área que deve ser fortalecida é a intelectual. Estimular a busca pelo saber, pelo conhecimento não somente em si mesmo, mas em prol da comunidade humana que ali está inserida, entrelaçados por interesses semelhantes, mas não iguais. Por que ninguém é uma máquina, e sim seres humanos que são movidos pelo que nasce brotam do interior de cada um, transbordando para uma identidade própria, única, que se aproxima dos outros interesses.
    Uma terceira área – o emocional que deve ser trabalhado em conjunto com a psicológica e com a intelectual, aliás, todas estas áreas se dão ao mesmo tempo nas ações humanas em sociedade, que podem estar impregnadas de emoções de grau favorável ou não, de ideias interessantes ou não, de atos falhos, se for o caso, entre outros.
    Por fim, todas as áreas da psyque humana se afunilam no momento da ação humana que desencadeia todo um processo consequências devido tal atitude tomada dentro das mediações do contexto vivido pelo sujeito. Estas mediações podem ser de alcance mínimo ou máximo, depende a que e a quem se endereça, qual finalidade daquela ação, ou melhor, qual é a verdadeira intenção do ato em si, com isto traça-se milhares de possibilidades com o outro que participa desta ação em conjunto.
     Eis o complexo de rede das ações humanas em sociedade, conforme Jean Paul Sartre nos coloca, com o exemplo do lago, o sujeito e a pedra. “Certo sujeito joga uma pedra na água, ao cair no lago, provoca ondas até as margens do lago.” O sujeito representa a intenção humana; a pedra é a decisão/ação humana; o lago a sociedade; e as ondas no lago representam as consequências refletidas em toda sociedade. Concluindo, toda ação humana na sociedade pede responsabilidade por tal ato, fazendo uma analogia com a ideia deste texto, significa afirmar que na mesma proporção que acontece no exterior do ser humano, acontece também no seu interior, quando a pedra é jogada para dentro de si mesmo. Neste caso, a pedra representa a pressão social invadindo seu interior causando ondas de desequilíbrio na área mais fragilizada no atual momento da sua vida. Quando se percebe a tempo tal coisa, daí em diante é necessário criar sua bolha saudável.
    “Quando o suportável se torna insuportável”, daí está mais do que na hora de criar sua bolha saudável. Como fazer isto? Primeiro, sozinho ninguém vai a lugar nenhum. Segundo, buscar pessoas com os mesmos interesses e afinidades. Terceiro, tendo os mesmos interesses e afinidades, vive-se em comum, partilhar tudo com todos. Quarto, Viver os princípios preestabelecidos por todos em assembleia, sendo que, o princípio mor deve ser o cuidado e a prevenção da saúde individual e coletiva de todos, não esquecendo o primordial a saúde espiritual.
     Portanto, eis uma aventura para aqueles que precisam respirar e respirar com qualidade de vida. Crie sua bolha saudável e viva da melhor forma possível, o melhor dos mundos possíveis, enquanto houver este leque de possibilidades no seu horizonte.

Prof. Ms. Sérgio Augusto Moreira
30/12/2014
15:55 h


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