"Boa Vontade"

A Boa vontade é o que dá o bom tom, diferentemente, do desejo que emerge dos nossos apetites carnais, puro instinto. Eis a moral Kantiana. A razão é o fundamento da moral Kantiana, ou seja, não importa o que você sente ou deseja, mas sim o que você pensa e responde sobre as ações que brotam da sua boa vontade. Isto com certeza caracteriza a filosofia moral kantiana como uma filosofia da intencionalidade.
            Oh! Como este mundo contemporâneo está cheio de “boa vontade”!
            Cheio de homens e mulheres cultos e não cultos que “exalam” boa vontade.
            Será mesmo?
         “Boa Vontade” é uma máscara da falsidade humana em suas pérfidas e podres intenções, cheias de egoísmo e falsas promessas de céu, de paraíso, de vida boa, abastada, tranquila que é pura enganação. “Os homens inventaram o ideal, para tentar suportar o real, que é insuportável”, já dizia Nietzsche, eu acrescentaria “insuportável sem Deus”.
         E é a “boa vontade” que dá o tom desta sociedade hipócrita, neurótica, sem limites, cada vez mais amoral e também imoral, quando se assume a condição de uma pessoa intelectual, religiosa, ética. Prevalece a vida das aparências, das cascas, da superficialidade que é momentânea, efêmera, passageira; assim nada fica, permanece estável. Mas com o “jargão da boa vontade” tudo esteticamente fica lindo e maravilhoso. Em nome da beleza, do politicamente correto, engolimos sapos, lagartos, jacarés e até crocodilos.
          Se “boa vontade”, segundo Kant, é o uso da razão moderadamente em suas ações, totalmente calculado, principalmente, a reflexão do que você já se fez, então para Nietzsche a “boa vontade” é o oposto da máxima kantiana, é a política da “boa vizinhança”, ou pior, é a política descarada da mentira como verdade absoluta. Tudo vaidade das vaidades. A Maioria das pessoas foi manipulada e espoliada ideologicamente pela “Indústria Cultural”, conforme o pensamento de Adorno, a manter-se na mediocridade mental, simplesmente, devido ao perderem muito tempo do seu free time em coisas “inúteis e estáticas”. Se a vida é dinâmica, ficar de 6 a 8 horas do seu dia em frente a uma tela de TV, Computador, Notebook, entre outros, é idiotificar-se, pois a vida passa muito rápido, nos tornamos marionetes manipuladas pela mídia nacional e mundial, controlando nossas pobres vidas, na escravização de criação de novos produtos tecnológicos, na crista da onda da moda.
          Agora, imaginem o “deus celular”, onde as pessoas ficam plugadas quase que 24 horas por dia, facebook, whatsApp, MSN, Instagram, voltamos ao fundo da Caverna - Tecnológica Digital “Touchscreen”, escravos sem correntes, escravos digitais.  
        A concepção da “boa vontade” tanto no viés Kantiano como no viés Nietzscheano, ou seja, tanto no modo racional, esquemático como no modo instintivo, pulsional, ela aparece como pura metáfora filosófica ou pura retórica sofista. Então, como pura metáfora filosófica ela sinaliza indícios de racionalidade, porém, acaba se revelando algo superficial em certos momentos, cuja tal intenção tende para a animalidade instintiva da pessoa. Ela é apenas uma metáfora disfarçada de “boa vontade”. Já como pura retórica sofista ela sinaliza maqueamento de pseudorracionalidade, ou seja, tá na cara que a intenção é outra, é egocêntrica.
        Enfim, podemos concluir que a “boa vontade”, tanto no sentido ideal como no real não existe. É apenas uma invenção moral com variadas finalidades, de acordo com a real intenção de quem utiliza na linguagem. Existe um descompasso entre o mundo da linguagem e o mundo da vida.
        A “boa vontade” não se identifica com o “bom desejo”. Aliás, qualificar o que é bom e o que é mau, é bem complexo na realidade, por causa, das esferas que se encontram a vontade. Ela se encontra num nível mais próximo da razão do que o desejo.
       Se a vontade está mais próxima da razão do que o desejo, ora, significa que quanto mais racional eu for, mais eu direcionarei meus desejos, sendo eles qualificados como “bons ou não”. A vontade direcionada é a razão em atividade intelectual controlando meus desejos.
      O desejo bem direcionado (Platão) não é igual ao bom desejo. Todo desejo é bom em si, é a busca incessante do prazer. Sentir prazer é bom, prazer quer prazer (Schopenhauer). Em contrapartida, o desejo bem direcionado é ir além de apenas sentir algo bom, mas é o desejo pensado, processado, encabrestado não por acaso, simplesmente, porque se tem um objetivo a ser alcançado, enfim, quer se chegar a algum lugar.
      Mas o que vem a ser “bem direcionado”?
      Bem arquitetado, pensado, calculado delimitando todas as possibilidades de acertos e de erros.
     O desejo pelo desejo é algo simplesmente instintivo, pulsional. A irracionalidade no seu âmbito pulsional, da energia vital de qualquer ser vivo. Contudo, esta irracionalidade talvez na linguagem não pudesse ser chamada de irracional, o desejo pelo desejo, até porque, o “não racional”, o “não pensado” não condiz com o desejo alucinado.
     O desejo faz parte da alma animal, a vontade faz parte do intermediário entre a alma animal e a alma racional. Por isso, a vontade não pode ser boa ou má, porque, ela é intermediária. Ela transita tanto na animalidade se transformando em desejo, como na racionalidade se transformando numa ideia metafísica palpável. Ora, por ser uma faculdade transitável, a vontade se torna uma ponte adaptável as circunstâncias do mundo da vida.
      Reflexão sobre vontade x desejo x razão é necessário ter com certeza “boa vontade”.

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